09/01/2009 |
Motoko Rich
Gazeta Mercantil
9 de Janeiro de 2009 - Ben Zimmer, produtor-executivo de um website e
software de prateleira chamado Visual Thesaurus, procurava o mais antigo uso
da frase "you're not the boss of me". Usando um banco de dados de jornal,
ele encontrou uma referência de 1953.
Mas enquanto usava o site de busca de livros do Google recentemente,
encontrou a frase num conto inserido em "The Church", um periódico publicado
em 1883 e escaneado da Bodlein Library da Universidade de Oxford.
Desde que o Google começou a escanear, há quatro anos, livros impressos, os
acadêmicos e outros com interesses especializados têm sido capazes de
explorar um tesouro de informações estava confinado nas prateleiras de
bibliotecas e nas livrarias de obras antigas.
Segundo Dan Clancy, diretor de engenharia do site de busca de livros do
Google, todos os meses os usuários lêem nada menos que 10 páginas de mais da
metade dos um milhão de livros usados que a empresa escaneou para dentro de
seus servidores.
O site de busca de livros da Google "permite consultar obras que seriam
muito difíceis de consultar de outro modo", disse Zimmer, cujo site é
vusialthesaurus.com.
Direitos autorais
O acordo fechado em outubro com os autores e as editoras que moveram dois
processos de direitos autorais contra o Google possibilitará aos usuários
acesso a uma coleção muito maior de livros, incluindo vários ainda sob
proteção de direito autoral.
O acordo, que depende de aprovação por um juiz, também abriu caminho para os
dois lados obterem lucro com as versões digitais de livros. Não se sabe
exatamente qual tipo de oportunidade comercial a parceria representa, mas
poucos esperam que gere lucros expressivos para qualquer autor individual.
Mesmo o Google não espera necessariamente que o programa de livros contribua
de modo significativo para seu resultado líquido.
"Não pensamos necessariamente na possibilidade de ganhar dinheiro", disse
Sergey Brin, co-fundador do Google e seu presidente de tecnologia, numa
breve entrevista concedida na sede da empresa. "Só sentimos que isso faz
parte de nossa missão essencial. Há informações fantásticas nos livros".
A receita será gerada por meio da venda de publicidade nas páginas em que
aparecem os resumos dos livros escaneados, por meio de assinaturas feitas
pelas bibliotecas e outras para um banco de dados de todos os livros
escaneados na coleção do Google. Outra alternativa é a venda de acesso aos
consumidores dos livros protegidos por direito autoral. O Google vai ficar
com 37% dessa receita, deixando 63% para as editoras e os autores.
O acordo pode dar vida nova para os livros esgotados e protegidos por
direito autoral numa forma digital e permitir aos autores obter dinheiro com
títulos que estão fora da circulação comercial há anos. Dos sete milhões de
livros que o Google escaneou até agora, perto de cinco milhões se encontram
nessa categoria.
Mesmo que o Google tivesse ido a julgamento e perdesse os processos, disse
Alexander Macgillivray, conselheiro geral associado para produtos e
propriedade intelectual da empresa, teria obtido o direito de mostrar só as
resenhas dos conteúdos desses livros. "O que as pessoas querem fazer é ler o
livro", disse Macgillivray.
Download gratuito
Os usuários já estão tirando vantagem dos livros esgotados que estão
disponíveis para download gratuito. Clancy estava monitorando as consultas
de pesquisa recentemente quando a expressão "moldes de fontes de concreto"
chamou sua atenção. A busca apresentou uma versão digital de um título
obscuro de 1910, e o usuário passou quatro horas explorando as 350 páginas
do livro.
Para os acadêmicos e outros que pesquisam tópicos que o verbete do Wikipedia
não satisfaz, o acordo oferecerá acesso a milhões de livros pelo clique do
mouse. "Mais estudantes de pequenas cidades da América poderão ter muito
mais informações na ponta dos dedos", disse Michael A. Keller, bibliotecário
de Universidade de Stanford. "Isso é realmente importante".
Quando o acordo foi anunciado, em outubro, todos os lados o saudaram como
uma parceria histórica, pois deixa o Google prosseguir com seu projeto de
escaneamento enquanto protege os direitos e os interesses financeiros de
autores e editoras. Os dois lados concordaram em discutir se o escaneamento
do livro por si mesmo violava os direitos autorais de autores e editoras.
Nos meses seguintes, todas as partes dos processos - assim como aquelas que
serão afetadas, como a dos bibliotecários - tiveram oportunidade de examinar
o documento de acordo de 303 páginas e tentar assimilar seus prováveis
resultados.
Alguns bibliotecários expressaram reservadamente receios de que o Google
possa cobrar altos preços pelas assinaturas do banco de dados quando o site
amadurecer. Embora grupos sem fins lucrativos, como o Open Content Alliance,
organizem suas próprias coleções digitais, nenhum outro concorrente
importante do setor privado está envolvido nessa atividade. Em maio, a
Microsoft encerrou seu projeto de escaneamento de livro, deixando
efetivamente o Google como uma participante corporativa monopolista.
David Drummond, chefe do departamento legal do Google, disse que a empresa
queria ampliar o banco de dados para cobrir o maior número de bibliotecas
possível. "Se o preço for muito elevado", ele disse, "nós simplesmente não
vamos ter bibliotecas que possam pagar o preço".
Para os leitores que quiserem comprar acesso digital a um livro escaneado
específico, disse Clancy, a Google pode vender pelo menos metade dos livros
por US$ 5,99 ou menos. Os estudantes e as universidades que têm a assinatura
do banco de dados poderão ter gratuitamente os conteúdos integrais de todos
os livros.
Para os autores em geral, "isso não representa uma mudança do jogo" num
sentido econômico, disse Richard Sarnoff, diretor da Associação de Editoras
Americanas e presidente do grupo de investimentos em mídia digital da
Bertelsmann, a empresa controladora da Randon House, maior editora de livros
do mundo.
"Eles serão pagos pelo uso de seus livros, mas creio que é uma fantasia
imaginar que ganharão com isso o suficiente para viverem em alto estilo ",
disse Sarnoff. Mas, ele acrescentou, "poucas centenas de dólares para um
autor podem ser uma soma considerável para uma editora que detêm os direitos
de 10 mil livros".
Até agora, as editoras que autorizaram o Google a oferecer versões digitais
disponíveis para busca de seus novos livros receberam um baixo pagamento. A
Macmillan, a empresa que controla editoras como a Farrar, Straus & Giroux e
St. Martins Press e representa autores como Jonathan Franzen e Janet
Evanovich, oferece 11 mil títulos para busca no Google. Em 2007, a Macmillan
estimou que o Google ajudou a vender perto de 16.400 cópias.
Os autores vêem a possibilidade de os leitores encontrarem seus livros
esgotados mais como uma vitória cultural do que financeira.
Alguns acadêmicos temem que os usuários do site do Google mais provavelmente
buscarão informações específicas contidas nos livros em vez de lerem a obra
toda. "Tenho a dizer que, em termos pedagógicos e de progresso do
aprendizado, tenho a preocupação de que as pessoas serão incentivadas a usar
os livros dessa forma fragmentária", disse Alice Prochaska, bibliotecária da
Universidade de Yale.
Outros dizem acreditar que os leitores continuarão apreciando os textos
longos e que o site de busca de livros vai simplesmente ajudar os leitores a
encontrá-los.
"Não há atalho para apreciar Jane Austen, e espero estar certo quanto a
isso", disse Paul Courant, bibliotecário da Universidade de Michigan. "Mas
muitas das leituras serão feitas nas telas. Uma dos aspectos mais importante
desse acordo é que ele traz de volta a literatura do século 20 de uma forma
que os estudantes dos século 21 serão capazes de encontrá-la".
O site de busca de livros da Google já entrou na cultura popular, na versão
cinematográfica de "Crepúsculo", baseado no romance de Stephenie Meyer sobre
uma adolescente que se apaixona por um vampiro. Bella, uma das principais
personagens, usa o site de busca da Google para encontrar informações sobre
uma tribo indígena americana local. Quando a busca a leva para um livro, o
que ela faz? Ela vai para uma livraria e o compra.
(Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 6)
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