- O diretor Edgar Reitz, fundador do novo cinema alemão, estreia longa no Festival de Veneza, que começa nesta quarta-feira (28), antes exibi-lo em Toronto e no Festival do Rio
Carlos Helí de Almeida
Publicado:24/08/13 - 8h00
RIO - O alemão Edgar Reitz é um prolixo contador de histórias. “Heimat”
(“Pátria”, em tradução livre), seu filme mais conhecido, de 1984, consumiu 15
horas e 24 minutos para contar, sob o ponto de vista de três famílias de um
humilde vilarejo, as transformações da Alemanha ao longo do século XX. Premiada
pela crítica no Festival de Veneza, a saga rodou os cinemas do mundo, foi
exibida na TV alemã em formato de minissérie e gerou duas outras continuações
televisivas, de narrativa igualmente generosas, em 1993 e 2004, cobrindo a
História alemã até os anos 2000.
Mas, aos 81 anos, Reitz, um dos fundadores do novo cinema alemão, movimento dos anos 1960 e 1970, ainda tem histórias sobre sua terra natal para contar, e em grande estilo. “Die andere Heimat” (“A outra pátria”, em tradução livre), sua nova epopeia teutônica — que estreia no 70º Festival de Veneza, a partir da próxima quarta-feira (28), antes de viajar para os festivais de Toronto (de 5 a 15 de setembro) e do Rio (de 26 de setembro a 10 de outubro) —, pode ser considerada um prólogo do sucesso de 1984, pois se passa na fictícia Schabbach, a mesma vila de “Heimat”, só que no século XIX. Com três horas e 45 minutos de duração, o novo capítulo se confunde com a História do Brasil.
Encravada em Hunsrück, região próxima ao Rio Reno, assolada pela pobreza e a fome, Schabbach é habitada por famílias de camponeses arruinados, que sonham com a fartura da América do Sul, a ponto de começarem a migrar para o Brasil. O protagonista é o jovem Jakob Simon (Jan Schneider), filho de um dos fazendeiros do lugar, que estuda as línguas nativas do Novo Mundo e enfrentará preconceito e oposição dos parentes para realizar o desejo de fugir para as selvas brasileiras. Embora ficcional, a trama é ancorada em registros de uma forte corrente migratória na região para terras brasileiras.
— A migração em massa mostrada em “Die andere Heimat” é um fato. Fizemos muitas pesquisas sobre o assunto. Mas trata-se de um filme, não uma reconstrução histórica — adverte Reitz, em entrevista ao GLOBO, contando que pretende exibir o longa em cidades brasileiras que receberam imigrantes de Hunsrück, nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. — O Instituto Goethe de Porto Alegre está fazendo esforços para isso. Muitos dos meus antepassados migraram para o Brasil naquela época. Ainda há várias pessoas com o meu sobrenome vivendo por aí.
“Coragem e fé no futuro”
“Heimat” fora concebido como uma crítica aos heimatfilms, gênero muito popular na Alemanha dos anos 1930, que celebrava o amor à pátria. As famílias da trama festejam a ascensão de Hitler, tornam-se ricos industriais, passam pela reconstrução do país no pós-guerra, pela Guerra Fria, e chegam aos anos 1980 com a sensação de ter sido apenas massa de manobra na História. “Die andere Heimat” retrocede mais no tempo, agora centrado nos antepassados da família Simon, enclausurados numa realidade de miséria, doenças e tragédias naturais.
O filme evoca a dura vida rural de Hunstrück numa época em que as carruagens seguiam em caravana por vales e montanhas até o porto mais próximo, a partir de onde os mais afortunados rumavam para o desconhecido, cientes de que “qualquer destino é melhor do que a morte”. O enredo é contado a partir dos diários de Jakob Simon, no qual o personagem expressa sua visão de mundo, suas apreensões e desejos em relação à amada Henriette e suas fantasias sobre o Brasil. A alternativa de uma vida melhor está longe da terra natal. “Die andere Heimat” é descrito por Reitz como uma “história europeia, um caso verdadeiro relegado ao esquecimento, um conto de imensa coragem e fé no futuro”.
— Os tópicos da série “Heimat” têm levantado discussões na Alemanha por anos a fio, mas essas polêmicas não são intencionais — observa o veterano realizador, que começou a desenvolver seu épico na época em que a série de TV americana “Holocausto” (1978) falava sobre a Alemanha nazista “sem qualquer posição moral” sobre o episódio. — A primeira parte da minha trilogia foi produzida entre 1980 e 1984. Naquela época, “Holocausto” ainda era muito discutida em todo canto, e alguns artigos a compararam à narrativa de “Heimat”. Para falar a verdade, não era essa a minha intenção, na época.
Financiado com recursos de duas redes de TV da Alemanha e do próprio Reitz, “Heimat” virou cult nos cinemas e bateu recordes de audiência na televisão alemã. O filme consumiu cinco anos de pré-produção, 282 dias de filmagem, 28 atores centrais, 140 coadjuvantes e mais de cinco mil figurantes. Como a ação de “Die andere Heimat” se passa em um tempo e uma geografia mais restritos, o grande desafio da produção, de cerca de € 8 milhões, foi construir uma vila rural da Alemanha do século XIX:
— Hoje em dia, é impossível encontrar uma aldeia com as características daquela época. Levamos anos preparando e coletando material cenográfico e figurinos daquele período, para então levantarmos os diversos tipos de moradia e mobiliá-las. Tudo foi construído com material original daquela região.
Mas, aos 81 anos, Reitz, um dos fundadores do novo cinema alemão, movimento dos anos 1960 e 1970, ainda tem histórias sobre sua terra natal para contar, e em grande estilo. “Die andere Heimat” (“A outra pátria”, em tradução livre), sua nova epopeia teutônica — que estreia no 70º Festival de Veneza, a partir da próxima quarta-feira (28), antes de viajar para os festivais de Toronto (de 5 a 15 de setembro) e do Rio (de 26 de setembro a 10 de outubro) —, pode ser considerada um prólogo do sucesso de 1984, pois se passa na fictícia Schabbach, a mesma vila de “Heimat”, só que no século XIX. Com três horas e 45 minutos de duração, o novo capítulo se confunde com a História do Brasil.
Encravada em Hunsrück, região próxima ao Rio Reno, assolada pela pobreza e a fome, Schabbach é habitada por famílias de camponeses arruinados, que sonham com a fartura da América do Sul, a ponto de começarem a migrar para o Brasil. O protagonista é o jovem Jakob Simon (Jan Schneider), filho de um dos fazendeiros do lugar, que estuda as línguas nativas do Novo Mundo e enfrentará preconceito e oposição dos parentes para realizar o desejo de fugir para as selvas brasileiras. Embora ficcional, a trama é ancorada em registros de uma forte corrente migratória na região para terras brasileiras.
— A migração em massa mostrada em “Die andere Heimat” é um fato. Fizemos muitas pesquisas sobre o assunto. Mas trata-se de um filme, não uma reconstrução histórica — adverte Reitz, em entrevista ao GLOBO, contando que pretende exibir o longa em cidades brasileiras que receberam imigrantes de Hunsrück, nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. — O Instituto Goethe de Porto Alegre está fazendo esforços para isso. Muitos dos meus antepassados migraram para o Brasil naquela época. Ainda há várias pessoas com o meu sobrenome vivendo por aí.
“Coragem e fé no futuro”
“Heimat” fora concebido como uma crítica aos heimatfilms, gênero muito popular na Alemanha dos anos 1930, que celebrava o amor à pátria. As famílias da trama festejam a ascensão de Hitler, tornam-se ricos industriais, passam pela reconstrução do país no pós-guerra, pela Guerra Fria, e chegam aos anos 1980 com a sensação de ter sido apenas massa de manobra na História. “Die andere Heimat” retrocede mais no tempo, agora centrado nos antepassados da família Simon, enclausurados numa realidade de miséria, doenças e tragédias naturais.
O filme evoca a dura vida rural de Hunstrück numa época em que as carruagens seguiam em caravana por vales e montanhas até o porto mais próximo, a partir de onde os mais afortunados rumavam para o desconhecido, cientes de que “qualquer destino é melhor do que a morte”. O enredo é contado a partir dos diários de Jakob Simon, no qual o personagem expressa sua visão de mundo, suas apreensões e desejos em relação à amada Henriette e suas fantasias sobre o Brasil. A alternativa de uma vida melhor está longe da terra natal. “Die andere Heimat” é descrito por Reitz como uma “história europeia, um caso verdadeiro relegado ao esquecimento, um conto de imensa coragem e fé no futuro”.
— Os tópicos da série “Heimat” têm levantado discussões na Alemanha por anos a fio, mas essas polêmicas não são intencionais — observa o veterano realizador, que começou a desenvolver seu épico na época em que a série de TV americana “Holocausto” (1978) falava sobre a Alemanha nazista “sem qualquer posição moral” sobre o episódio. — A primeira parte da minha trilogia foi produzida entre 1980 e 1984. Naquela época, “Holocausto” ainda era muito discutida em todo canto, e alguns artigos a compararam à narrativa de “Heimat”. Para falar a verdade, não era essa a minha intenção, na época.
Financiado com recursos de duas redes de TV da Alemanha e do próprio Reitz, “Heimat” virou cult nos cinemas e bateu recordes de audiência na televisão alemã. O filme consumiu cinco anos de pré-produção, 282 dias de filmagem, 28 atores centrais, 140 coadjuvantes e mais de cinco mil figurantes. Como a ação de “Die andere Heimat” se passa em um tempo e uma geografia mais restritos, o grande desafio da produção, de cerca de € 8 milhões, foi construir uma vila rural da Alemanha do século XIX:
— Hoje em dia, é impossível encontrar uma aldeia com as características daquela época. Levamos anos preparando e coletando material cenográfico e figurinos daquele período, para então levantarmos os diversos tipos de moradia e mobiliá-las. Tudo foi construído com material original daquela região.
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