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Ciência nipo-brasileira
2/9/2009
Agência FAPESP – Um ano depois das comemorações dos 100 anos da imigração japonesa ao Brasil, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto, uniram esforços para destacar as colaborações científicas – dos mais variados tipos e em diferentes áreas do conhecimento – realizadas por pesquisadores dos dois países ao longo desse período.
O livro Centenário Brasil-Japão: USP e a Cooperação Científica Nipo-Brasileira, que acaba de ser lançado, foi escrito a partir de entrevistas com 35 cientistas brasileiros que, ao longo desse período, participaram de algum tipo de interação acadêmica com colegas de instituições de pesquisa japonesas.
A obra foi organizada por José Aparecido da Silva, professor do Departamento de Psicologia e Educação da USP de Ribeirão Preto, Rosemary Conceição dos Santos, pesquisadora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, e Amando Siuiti Ito, Oswaldo Baffa Filho e Sumeire Takahashi de Oliveira, todos da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da USP.
A despeito de obstáculos como dificuldades financeiras e distanciamento familiar, o livro mostra como esses pesquisadores se propuseram a cooperar com as diversas universidades orientais para a troca de experiências e o aprendizado de novas técnicas e metodologias de pesquisa.
"Sempre se fala muito sobre a interação entre as duas culturas e pouco se diz sobre a colaboração científica existente entre Brasil e Japão. Além de destacar as semelhanças e as diferenças no campo da pesquisa científica, o livro também aborda os reflexos dessas interações acadêmicas para ambos os países – impactos que ocorreram no âmbito social e cultural, influenciando até as relações diplomáticas", disse José Aparecido da Silva à Agência FAPESP.
"As entrevistas com os cientistas brasileiros, muitos descendentes de japoneses, deixam claras as inúmeras virtudes dessa parceria, entre elas a dedicação dos pesquisadores às diferentes disciplinas, aos principais resultados e benefícios acadêmico-científicos, ao compartilhamento de equipamentos e infraestrutura de pesquisa e ao notável envolvimento dos cientistas na busca por novas descobertas", aponta o docente.
Em sua maioria apoiados por bolsas do Monbusho, o Ministério da Educação do Japão, os pesquisadores entrevistados abordam temas que foram divididos em tópicos como interação, apoio, vínculos e influências; fomento às relações; dificuldades encontradas nas pesquisas feitas no Japão e no Brasil.
A publicação detalha, por exemplo, a grande afinidade que a ciência japonesa possui com a brasileira na área de exatas. "Identificamos uma grande interação histórica nessa área entre os cientistas dos países, com dezenas de estudos bem-sucedidos. Um dos reflexos dessa interação é que, atualmente, entre 15% e 20% dos estudantes das universidades públicas do Brasil, na área de exatas, são de origem asiática, provenientes, sobretudo, do Japão", apontou.
O livro apresenta ainda a situação econômica do Japão, que conta com mais recursos financeiros para as pesquisas do que os disponíveis no Brasil, além de possuir forte apoio do setor industrial para esse fim, o que lhes permite imprimir maior agilidade e diversidade em suas diversas frentes de investigação.
Por outro lado, os autores apontam também que, apesar de terem menos recursos, os pesquisadores brasileiros geralmente desenvolvem, com agilidade, trabalhos significativos que costumam servir de estímulo aos pesquisadores japoneses.
"Historicamente os brasileiros ensinaram, mas também vêm aprendendo muito com os japoneses e, apesar das grandes diferenças culturais, o livro se propõe a solidificar ainda mais as relações entre cientistas dos dois países", conclui José Aparecido da Silva.
Mais informações: www.funpecrp.com.br/loja