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Siderurgia na Colônia
As tentativas de produzir ferro no Brasil começaram no final do século XVI no interior de São Paulo NELDSON MARCOLIN ![]() Ruína da fábrica de ferro em foto de 1987 A história dos sucessos e fracassos da Real Fábrica de Ferro de Ipanema, um empreendimento siderúrgico realizado no século XIX no Brasil, já foi analisada e contada várias vezes. Hoje se conhecem bem as dificuldades técnicas enfrentadas por suecos e alemães contratados para conseguir produzir ferro em grande quantidade e com qualidade no interior de São Paulo, o que nunca foi alcançado. Nesse período a siderurgia já estava avançada na Europa, onde os altos-fornos eram feitos com base no conhecimento científico acumulado nos últimos séculos. Já as tentativas de produzir ferro antes da Real Fábrica são uma história pouco conhecida. O minério era transformado em ferro por práticos fundidores que trabalhavam em condições precárias no meio da mata, com fornos muito pequenos e dificuldade para distribuir a produção. Muitos práticos em metalurgia e fundição e mineiros especializados em ouro, prata e pedras preciosas foram trazidos ao Brasil em 1598 por dom Francisco de Sousa (1591-1602), o sétimo governador-geral do Brasil. Sousa seguia informações sobre a ocorrência de minérios valiosos em uma região perto da então Vila de São Paulo de Piratininga, no morro de Araçoiaba, a 15 quilômetros do atual município de Iperó. Os trabalhos de exploração no local começaram um ano antes com o bandeirante e comerciante português Afonso Sardinha, esperançoso de encontrar metais nobres no local, de acordo com o historiador Pedro Taques (1714-1777). Em Araçoiaba, no entanto, a abundância do minério de ferro restringia-se à magnetita. A fim de aproveitar o potencial daquela área foram construídos fornos e forjas para fazer barras e peças simples como facas, espadas, ferraduras e cravos. "Os fundidores faziam esse trabalho utilizando o conhecimento prático, sem o entendimento científico dos fenômenos presentes na fundição, especialmente os que ocorrem na combustão dos materiais", diz a historiadora Anicleide Zequini, especialista no tema do Museu Republicano de Itu, ligado ao Museu Paulista da Universidade de São Paulo (USP)."Esses fenômenos só foram desvendados durante a chamada revolução científica, entre 1789 e 1848, com o avanço da química e passo a passo com a Revolução Industrial." ![]() Vestígios do forno de fundição A exploração empreendida no morro de Araçoiaba por dom Francisco e Sardinha não durou muito. Na época, o investimento tinha de ser parcialmente ou totalmente feito pelo explorador. Se o capital fosse limitado e o retorno não se desse logo, o investidor ia à bancarrota, como aconteceu com dom Francisco. Suas investidas não surtiram efeito e ele morreu na miséria. Depois houve duas outras iniciativas semelhantes. No século XVII, em 1684, o português Luiz Lopes de Carvalho construiu um engenho de ferro no mesmo lugar. Para conseguir dinheiro ele hipotecou suas propriedades em Portugal, mas faliu em 1682. No século seguinte, em 1763, foi a vez de Domingos Pereira Ferreira tentar. "Ele deve ter sido o último a produzir ferro naquele morro com a ajuda dos fundidores", diz Anicleide. A Real Fábrica foi erguida apenas em 1810 alguns quilômetros distante daquele local. Araçoiaba não foi o único lugar de São Paulo a fabricar ferro no século XVII. Na Vila de São Paulo foi aberta a Fábrica de Ferro de Santo Amaro, em 1607, uma sociedade de Diogo Quadros com Francisco Lopes Pinto e Antonio de Souza. Durou alguns anos e fechou. As atividades realizadas do século XVI ao XVIII no interior de São Paulo foram investigadas entre 1983 e 1989 pela arqueóloga Margarida Davina Andreatta, uma das pioneiras da arqueologia histórica no Brasil, segundo Anicleide. A área pesquisada e escavada por Margarida foi encontrada com a ajuda de um pesquisador da história da região, José Monteiro Salazar. Ela identificou o sitio, denominado Afonso Sardinha, e achou escórias, telhas, cerâmica em geral e vestígios de forno e outras construções. Quando Anicleide fez sua tese de doutorado sobre o sítio mandou datar as peças e comprovou que eram do período pesquisado. "Foi o primeiro sítio do século XVI datado em São Paulo", diz Margarida. Hoje aposentada da USP, ela ainda vai duas vezes por semana ao Museu Paulista e coordena um grupo de arqueologia histórica da Universidade Braz Cubas, de Mogi das Cruzes (SP). Revista FAPESP |
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quarta-feira, 25 de setembro de 2013
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Pimenta, especiaria da América
Pimenta, especiaria da América

Colombo e seus navegadores foram os primeiros europeus a conhecer as pimentas das Américas
No século XVI os navios europeus vinham às Américas não só para buscar pau-brasil e algodão, macacos e papagaios, mas também um produto a que os historiadores não davam muita atenção: as pimentas conhecidas como ardidas dedo-de-moça, piripiri, tabasco, jalapeño, pimentão e pimenta-doce. Originárias das Américas do Sul e Central, eram diferentes da pimenta-negra (Piper nigrum) trazida da Ásia com o cravo, a canela e outras especiarias, argumentam Christian Fausto dos Santos, Fabiano Bracht e Gisele Cristina da Conceição, pesquisadores do Laboratório de História, Ciências e Ambiente da Universidade Estadual de Maringá, com base em relatos de cronistas, médicos e viajantes da época (Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi, Ciências Humanas, janeiro-abril de 2013). Segundo os pesquisadores, Cristóvão Colombo e seus navegadores, no século XV, foram os primeiros europeus a conhecer as pimentas americanas, que eram plantadas no México havia 9 mil anos e nos Andes peruanos desde 2.500 anos antes de Cristo. Depois de Colombo, a disseminação foi rápida, e as pimentas começaram a ser plantadas em hortas e quintais, inicialmente da península Ibérica. Um dos relatos indicou que as variedades americanas eram mais aromáticas e de gosto melhor do que as das Índias, então a principal especiaria buscada no Oriente. Em outro estudo, o grupo de Maringá relatou que as pimentas eram usadas no preparo das comidas a bordo dos navios, para evitar o escorbuto.
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