quarta-feira, 25 de novembro de 2009

XII - Sobrenomes - Imigrantes em Leopoldina, MG

 

Imigrantes em Leopoldina, MG

XII - Sobrenomes

 

Este capítulo se encerra com os sobrenomes identificados e que representam o esforço para resgatar um pouco da memória de tantos imigrantes italianos que habitaram o município de Leopoldina.

Abolis, Agus, Albertoni, Amadio, Ambri, Ambrosi, Andreata, Andreoni, Andreschi, Anselmo, Antinarelli, Antonelli, Antonin, Anzolin, Apolinari, Apova, Apprata, Arleo, Aroche, Artuzo

Bagetti, Balbi, Balbini, Baldan, Baldasi, Baldini, Baldiseroto, Baldo, Baqueca, Barbaglio, Barboni, Barra, Bartoli, Basto, Battisaco, Beatrici, Beccari, Bedin, Bellan, Benetti, Bergamasso, Berlandi, Bernardi, Bertini, Bertoldi, Bertulli, Bertuzi, Bestton, Betti, Bighelli, Bigleiro, Bisciaio, Bogonhe, Boller, Bolzoni, Bonini, Bordin, Borella, Bovolin, Brandi, Brando, Breschiliaro, Bresolino, Bronzato, Bruni, Bugghaletti, Bullado, Buschetti

Cadeddu, Cagliari, Caiana, Calloni, Caloi, Calza, Calzavara, Campagna, Campana, Cancelliero, Canova, Capetto, Cappai, Cappi, Capusce, Carboni, Carmelim, Carminasi, Carminatti, Carrara, Carraro, Casadio. Casalboni. Casella. Cassagni, Castagna, Castillago, Cataldi, Catrini, Cavallieri, Cazzarini, Cearia, Ceoldo, Cereja, Cesarini, Chiafromi, Chiappetta, Chiata, Chinelatta, Chintina, Ciovonelli, Cobucci, Codo, Colle, Columbarini, Contena, Conti, Corali, Corradi, Corradin, Cosenza, Cosini, Costa, Costantini, Crema, Cucco

Dal Canton, Dalassim, Dalecci, Dalla Benelta, Danuchi, Darglia, De Angelis, De Vitto, Deios, Donato, Dorigo, Duana

Eboli, Ermini, Estopazzale

Fabiani, Faccin, Faccina, Fachini, Falabella, Falavigna, Fannci, Fanni, Farinazzo, Fazolato, Fazzolo, Federici, Fermadi, Ferrari, Ferreti, Ferri, Fichetta, Filipoli, Filoti, Finamori, Finense, Finotti, Fioghetti, Fiorato, Fofano, Fois, Fontanella, Formacciari, Formenton, Fovorini, Franchi, Franzone, Fucci, Fuim

Galasso, Gallito, Gallo, Gambarini, Gambato, Gasparini, Gattis, Gazoni, Gazziero, Gentilini, Geraldi, Geraldini, Gessa, Gesualdi, Ghidini, Giacomelle, Giamacci, Gigli, Gismondi, Giudici, Giuliani, Gobbi, Gorbi, Gottardo, Grace, Graci, Grandi, Griffoni, Grilloni, Gripp, Gronda, Gruppi, Guarda, Guardi, Guelfi, Guerra, Guersoni, Guidotti

Iborazzati, Iennaco

La Rosa, Lai, Lamarca, Lami, Lammoglia, Lazzarin, Lazzaroni, Leoli, Lingordo, Locatelli, Locci, Loffi, Longo, Lorenzetto, Lorenzi, Lucchi, Lupatini

Macchina, Maciello, Magnanini, Maiello, Maimeri, Malacchini, Mamedi, Mancastroppa, Mantuani, Manza, Maragna, Marangoni, Marassi, Marcatto, Marchesini, Marchetti, Marda, Marinato, Mariotti, Marsola, Martinelli, Marzilio, Marzocchi, Matola, Matuzzi, Mauro, Mazzini, Meccariello, Melido, Meloni, Melugno, Menegazzi, Meneghelli, Meneghetti, Mercadante, Mescoli, Meurra, Miani, Minelli, Minicucci, Misalulli, Mona, Monducci, Montagna, Montovani, Montracci, Morciri, Morelli, Moroni, Morotti

Nacav, Naia, Nani, Netorella, Nicolini, Nocori

Pacara, Pachiega, Padovan, Paganini, Pagano, Paggi, Panza, Pasianot, Passi, Pavanelli, Pazzaglia, Pedrini, Pedroni, Pegassa, Pelludi, Perdonelli, Perigolo, Pesarini, Petrolla, Pezza, Piatonzi, Picci, Piccoli, Pierotti, Pighi, Pinzoni, Piovesan, Pittano, Pivoto, Piza, Porcenti, Porcu, Pradal, Prete, Previata, Principole, Properdi

Rafaelli, Raimondi, Ramalli, Ramanzi, Ramiro, Rancan, Ranieri, Rapponi, Ravellini, Reggiane, Richardelli, Righetto, Righi, Rinaldi, Rizochi, Rizzo, Roqueta, Rossi

Sabino, Saggioro, Sallai, Saloto, Samori, Sampieri, Sangalli, Sangiorgio, Santi, Sardi, Scantabulo, Scarelli, Schettini, Sedas, Sellani, Simionato, Sparanno, Spigapollo, Spoladore, Steapucio, Stefani, Stefanini, Stora

Taidei, Tambasco, Tartaglia, Tazzari, Tedes, Testa, Tichili, Toccafondo, Todaro, Togni, Tonelli, Tosa, Traidona, Trimichetta, Tripoli, Trombini

Valente, Vargiolo, Varoti, Vavassovi, Vechi, Venturi, Verona, Veronese, Vigarò, Vigeti, Viola, Vitoi

Zaccaroni, Zachini, Zaffani, Zamagna, Zamboni, Zamime, Zanetti, Zaninello, Zannon, Zecchini, Zenobi, Ziller, Zini, Zotti

XI - Números - Imigrantes em Leopoldina, MG

 

Imigrantes em Leopoldina, MG

XI - Números

 

Números são sempre perguntados por alguns leitores. Ao longo destes anos chegamos a alguns deles. O primeiro refere-se aos personagens nascidos na Itália que, segundo as fontes consultadas, somaram 1.867 (um mil, oitocentos e sessenta e sete) pessoas. Ao finalizar o estudo, obtivemos a uma lista de 597 (quinhentos e noventa e sete) sobrenomes de imigrantes italianos em Leopoldina.

Reiteramos que estes dois números sofreram modificações entre a data em que o levantamento foi concluído - maio de 2003, e a finalização do trabalho em junho de 2009. Conforme já foi dito, nomes foram excluídos ou acrescentados por diversas razões. As exclusões ocorreram por variações no nome de um mesmo imigrante, por descobrir posteriormente que o personagem não residiu no município ou por só ter sido mencionado em uma única fonte. Os acréscimos ao total inicial foram, basicamente, consequência de correção de falhas não observadas na primeira análise.

Do universo final de sobrenomes, 406 (quatrocentos e seis) pertencem a imigrantes sobre os quais reunimos um maior número de informações. Em sua maioria são de famílias que ainda vivem em Leopoldina, muito embora nem todas o preservem na forma original. Além do que, habitualmente o italiano não transmitia ao descendente o sobrenome materno.

X - Delimitando o Universo Pesquisado - Imigrantes em Leopoldina, MG

 

Imigrantes em Leopoldina, MG

 

X - Delimitando o Universo Pesquisado

 

Muitos nomes foram excluídos da listagem por terem sido localizados em apenas uma das fontes consultadas. Em alguns casos foi possível descobrir que, embora o casamento tenha sido realizado na Paróquia de São Sebastião, os noivos não residiam em Leopoldina. Também muitos nomes constantes nos registros de hospedaria como tendo sido contratados por fazendeiros do município, na realidade desembarcaram em uma de suas estações ferroviárias mas foram trabalhar em municípios vizinhos, como Palma, Cataguases e Muriaé. No sentido inverso, imigrantes contratados para trabalhar em outros municípios fixaram residência em Leopoldina poucos meses depois. Entre estes, além dos acima citados há os que foram inicialmente para Ubá, Astolfo Dutra e São João Nepomuceno. Importante destacar, ainda, que Recreio e Argirita eram distritos de Leopoldina no período analisado.

Portanto, é preciso esclarecer que o resultado encontrado não pode ser considerado como definitivo, mas tão somente um esboço que prescinde de maior aprofundamento. Talvez o leitor se pergunte se, a partir da afirmação de que muito ainda há por fazer, não seria mais conveniente adiar a publicação ora encetada. Neste caso, sugere-se um argumento em contrário, no sentido de considerar que, após 15 anos de pesquisas, não foi possível atingir plenamente o objetivo proposto, ou seja, responder adequadamente à questão que motivou o estudo. Se depois de todo este tempo não foi possível identificar todos os imigrantes que aqui viveram entre 1880 e 1930, abandonar o material já reunido seria desistir de comunicar aos moradores de Leopoldina o conhecimento adquirido até então. Esta é, portanto, uma conclusão provisória que se espera seja utilizada pelos próximos pesquisadores.

IX - Alterações em núcleos familiares - Imigrantes em Leopoldina, MG

 

Imigrantes em Leopoldina, MG

IX - Alterações em núcleos familiares

 

Não foram poucos os casos em que um mesmo personagem apareceu com diversas formas de nomes. Somente após inúmeras comparações foi possível reuni-los sob um único sobrenome. Provavelmente muitos mais ainda o serão, quando outros estudiosos complementarem o estudo que ora se conclui.

Por outro lado, ao longo do tempo fomos levados a recompor diversos núcleos, ampliando o número de personagens de nosso estudo. Para este fato, citamos três exemplos.

Sabemos, entre outros, que Giovanni foi transformado em João, Giuseppe em José, Giordano em Jordão e Pietro em Pedro. Sabemos também que muitos italianos receberam dois nomes no nascimento mas que muitas vezes o segundo nome não foi preservado nos registros realizados aqui no Brasil. Portanto, ao localizarmos o batismo do filho dos italianos João e Amália, fizemos uma comparação com os outros dados já recolhidos sobre o grupo familiar e na maioria das vezes concluíamos tratar-se do filho do casal Giovanni-Amabile.

Num destes casos, entre os batismos dos filhos encontramos as seguintes variações para o nome do pai: João, Jovão e Jovane. A mãe apareceu como Maria Amalia, Amalia, Adelia e Maria Adelia. Em nosso banco de dados tínhamos o casal Giovanni-Amabile. Considerando que os oito batismos indicaram que as crianças nasceram a um intervalo médio de 17 meses, e que a primeira criança nasceu 11 meses após o casamento dos pais, montamos o grupo familiar após verificar que os padrinhos das crianças incluíam sempre um dos avós.

Quando fizemos uma revisão no livro de sepultamentos do cemitério de Leopoldina, percebemos que uma das crianças aparecia como filha de "Jordão". Decidimos refazer outras buscas e consultas a familiares, tendo descoberto que existiu um Giordano na família. Este personagem passou ao Brasil antes dos pais, foi para o estado de São Paulo e só veio para Leopoldina muitos anos depois, já casado e com filhos. Além disso, faleceu em outro estado para onde seus filhos tinham migrado na década de 1920. Mais algumas consultas e aquele grupo familiar foi acrescido de mais 6 pessoas: Giordano, a esposa que também se chamava Amabile e 3 filhos homônimos dos primos nascidos em Leopoldina.

O segundo exemplo é relativos aos irmãos Antonio Sante, Antonio Agostino e Agostino Sante. Os três casaram-se com mulheres de nome Maria e tiveram filhos a intervalos que permitiria localizá-los num mesmo núcleo familiar.

O terceiro caso é dos irmãos Giovanni, Giovanni Battista e Battista Fortunato, cujas esposas se chamavam Ana, Maria e Mariana. Nos assentos paroquiais estes irmãos aparecem ora como João, João Batista ou apenas Batista e as esposas aparecem como Ana Maria ou apenas Maria.

VIII - Análise do Resultado - Imigrantes em Leopoldina, MG

 

Imigrantes em Leopoldina, MG

VIII - Análise do Resultado

 

É reconhecida a impossibilidade de se retratar fielmente o passado, uma vez que, por mais que se controle a análise dos documentos, ela é sempre orientada pelo presente, ou seja, pela interpretação que o pesquisador é capaz de fazer dos vestígios que consegue recuperar.

Destacamos, a propósito, que em Apologia da História (Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001, p.73) Marc Bloch chama a atenção para as características da observação, já que
o conhecimento de todos os fatos humanos no passado deve ser um conhecimento através de vestígios.
Este autor indica a contribuição das testemunhas como fonte subsidiária para que o pesquisador volte no tempo se fazendo acompanhar de materiais fornecidos por gerações passadas. Entretanto, alerta (p. 75),

o conhecimento do passado é uma coisa em progresso, que incessantemente se transforma e aperfeiçoa.

Assim é que, através de pistas fornecidas pelos colaboradores, foi possível fazer uma comparação entre as citações encontradas nas fontes. Inclusive, e isto é de enorme importância, entrevistas indicaram caminhos para se identificar transformações sofridas por grande número de sobrenomes italianos.

Nunca será excessivo mencionar dois exemplos clássicos. Num deles, um italiano aparece no registro de estrangeiros como Severino Terceira, nome que dificilmente será original. O outro caso é o de Sancio Maiello que se transformou em Francisco Ismael.

VII - Outras buscas - Imigrantes em Leopoldina, MG

 

Imigrantes em Leopoldina, MG

VII - Outras buscas

 


Uma outra fase do levantamento foi realizada no Arquivo Nacional, no Rio de Janeiro. Ali foram encontrados alguns processos de registro dos estrangeiros que viviam em território nacional na década de 1940. Além disso, contamos com a prestimosa colaboração do saudoso Luiz Raphael, que mantinha no Espaço dos Anjos um bom número de cópias de documentos deste gênero.

Numa outra fase do projeto, a contribuição de nossos entrevistados foi muito importante. De modo geral, abordamos descendentes e antigos moradores de Leopoldina para uma conversa informal. Evidentemente levávamos um roteiro dos pontos de nosso interesse, mas sempre optamos por entrevistas semiestruturadas por acreditarmos que os interlocutores se sentiriam mais à vontade. Nestes contatos, além de nos contarem o que sabiam sobre os imigrantes, muitas vezes nos ofereceram documentos e fotografias.

VI - Processo de Busca - Imigrantes em Leopoldina, MG



Imigrantes em Leopoldina, MG

VI - Processo de Busca

Inicialmente foram listados os nomes constantes das fontes encontradas, relativos a um espaço de tempo mais amplo do que o recorte temporal especificado. Os livros paroquiais consultados foram os de batismo de 1852 a 1930 e os de casamentos de 1872 a 1930.

Esta coleta permitiu estabelecer o período provável de entrada dos imigrantes entre 1875 a 1910, o qual determinou as buscas nas listas de passageiros e nos livros das hospedarias. Entretanto, só foi possível localizar registros de hospedarias entre 1888 e 1901.

Quanto aos livros de sepultamento, só foram encontrados os do cemitério da sede municipal a partir de 1889. Por não terem sido localizados os livros relativos aos distritos de Leopoldina, seria necessária uma busca pessoal em cada cemitério, correndo-se o risco de inúmeras falhas por não terem sido preservadas todas as lápides. Optamos, então, por registrar apenas os óbitos localizados nas fontes textuais disponíveis.

Da mesma forma, não houve sucesso na tentativa de levantamento intensivo dos registros de compra e venda de imóveis. O Cartório de Registro de Imóveis de Leopoldina permitiu, uma única vez, que se consultasse um arquivo com fichas descritivas. Outras informações do gênero foram obtidas em certidões gentilmente fornecidas por familiares, em processos de inventário, nos Relatórios da Colônia Agrícola da Constança e em notícias de jornais.

V - Teoria Necessária - Imigrantes em Leopoldina, MG

 

Imigrantes em Leopoldina, MG

V - Teoria Necessária

 

Em História e Memória (4. ed. Campinas: Unicamp, 1996), Jacques Le Goff declara que  o passado é possível recuperar duas formas de memória: os monumentos e os documentos. Monumento é o que pode evocar o passado e permitir a recordação do vivido, como estátuas, construções e atos escritos. Assim como os monumentos entendidos nesta acepção, os documentos históricos são também monumentos, produzidos conscientemente para deixar registrado um momento, uma passagem ou uma forma de ordenamento social. O documento escrito é resultado da escolha de quem o produziu, baseado nas concepções vigentes ao seu tempo.

Acrescente-se o ensinamento de Michel de Certeau em A Escrita da História (2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p.81) a respeito da produção de documentos pelo pesquisador. Ao iniciar um trabalho, é necessário separar o material e reordená-lo na forma adequada ao estudo que se pretende. Este movimento é designado como produção de documentos de pesquisa. Portanto, numa pesquisa historiográfica podem ser utilizados documentos históricos (monumentos) para se produzir documentos de pesquisa. O estudioso, segundo Michel de Certeau, não aceita simplesmente os dados, mas combina-os para constituir as fontes sobre as quais atuará.

Sobre este aspecto, lembremo-nos de Carlo Ginsburg em Mitos, emblemas, sinais (São Paulo: Cia das Letras, 1990) quando chama a atenção para o fato de que se deve dar prioridade à fonte original, procurando o que é peculiar e importante para reconstruir um acontecimento do passado de acordo com os objetivos do estudo que se realiza.

IV - Período a ser analisado - Imigrantes em Leopoldina, MG

 

Imigrantes em Leopoldina, MG

IV - Período a ser analisado

 

Todo pesquisador sabe que é fundamental estabelecer um recorte temporal para tornar viável o empreendimento. Sabe, também, que é necessário estabelecer adequadamente o seu objeto de pesquisa.

No caso em pauta, era aconselhável restringir o número de pessoas a serem estudadas. Entretanto, levantou-se a hipótese de variações em torno da lista de nomes identificados nos livros paroquiais. Desta forma, ficou estabelecido que seriam acrescentados os nomes que surgissem nos demais documentos disponíveis e que a citação em mais de uma fonte seria tomada como base para o reconhecimento do imigrante como residente em Leopoldina.

Sendo assim, decidimos que o período de análise corresponderia à segunda fase da história de Leopoldina, ou seja, entre 1880 e 1930.

III - Pensando a Pesquisa , Imigrantes em Leopoldina , MG

 

Imigrantes em Leopoldina, MG

III - Pensando a Pesquisa

 

A justificativa para realizar a busca foi facilmente delineada. Embora os moradores de Leopoldina reconheçam que o centro urbano é habitado por grande número de descendentes de italianos, não se sabe de iniciativas de valorização desta comunidade. A exceção é a representação que ocorre anualmente na Feira da Paz, evento em que os clubes de serviço promovem atividades festivas de congraçamento. Procuramos por um representante da comunidade, sem sucesso. Órgãos representativos também não existiam. E as pessoas consultadas demonstraram nada saber sobre a chegada dos primeiros italianos e a trajetória daquelas famílias.


Ao ser esboçado o projeto, foi feito um levantamento das fontes passíveis de serem analisadas. Decidimos que os dados obtidos no levantamento dos livros paroquiais seriam comparados com os registros de entrada de estrangeiros; processos de registro dos que viviam no município por ocasião do Decreto 3010 de 1938; livros de sepultamento; pagamento de impostos e tributos municipais; escrituras de compra e venda de imóveis; e notícias em periódicos locais. Esclarecemos que o Decreto citado foi promulgado por Getútlio Vargas e determinava que todo imigrante residente em território nacional deveria preencher um requerimento a ser encaminhando para controle pelo Departamento de Polícia Marítima, Aérea e de Fronteiras. Os que foram preservados encontram-se no Arquivo Nacional, no Rio de Janeiro.

II - A escolha dos Imigrantes Italianos



Imigrantes em Leopoldina, MG

II - A escolha dos Imigrantes Italianos

Pesquisar é buscar resposta para uma questão que surge no contato com um tema. De modo geral o processo tem início quando, ao procurar conhecimento sobre um assunto, o leitor se sente atraído por um aspecto não abordado pelas obras disponíveis. No caso de pesquisas historiográficas relativas ao resgate da memória de uma cidade, isto se torna mais claro porque o pesquisador resolve fazer a busca por não ter encontrado uma fonte suficiente para esclarecê-lo. Entretanto, nem sempre se percebe que o trabalho já começou. E a falta de um esboço pode acarretar uma desistência, já que não é possível prosseguir sem haver clareza do problema, do objetivo, da justificativa e da metodologia que será utilizada.

Em outros momentos já foi declarado que o interesse pela imigração em Leopoldina surgiu no decorrer de estudo sobre as famílias que ali viveram no primeiro século de sua existência. Ao realizar um levantamento nos livros paroquiais, observou-se grande número de sobrenomes não portugueses entre os pais das crianças batizadas, os noivos e os padrinhos dos eventos ocorridos na paróquia entre 1872 e 1930. Quando encerrado aquele estudo, um outro foi iniciado e resultou no texto A Imigração em Leopoldina vista através dos Assentos Paroquiais de Matrimônio. Este estudo foi publicado pela primeira vez em 1999 e em 2009 foi revisto e republicado.

O levantamento demonstrou que 10% dos noivos do período de 1890 a 1930 eram imigrantes, sendo 9% italianos e os demais eram naturais de Portugal, Espanha, Síria, Açores, França, Ilhas Canárias, Egito, sendo que de uma parte não identificamos o país de origem. Por esta razão, optamos por estudar inicialmente os italianos.

Pesquisa sobre a Imigração em Leopoldina I

 

Imigrantes em Leopoldina, MG

Pesquisa sobre a Imigração em Leopoldina I

 

Em A Escrita da História (2. ed., 2006, p. 77), Michel de Certeau declara que

"a articulação da história com um lugar é a condição de uma análise da sociedade."
 Os motivos que levam os pensadores a analisar uma sociedade são múltiplos. Mas para nós, que já nos dedicávamos há tantos anos a buscar conhecimento sobre Leopoldina, uma certeza já se fixara: sabíamos que a ordenação de informações resultaria em benefício para os moradores, na medida em que conhecer a própria origem dá ao ser humano a oportunidade de reconhecer-se no tempo e no espaço, realimentando sua própria identidade e abrindo um novo olhar para o mundo.

Sendo assim, buscamos analisar aquela sociedade a partir de um de seus elementos constitutivos: os imigrantes. O objetivo era oferecer aos conterrâneos uma informação cultural até então pouco discutida, qual seja o reconhecimento da presença dos descendentes de italianos em todas as atividades locais.

A partir de hoje reiniciaremos a publicação de partes dos textos que produzimos ao longo destes 15 anos de pesquisa.

Máfias provocam medo e fascínio desde o final do século XIX

Primeiros grupos surgiram na Sicília para proteger proprietários de terra.
Professor de Oxford diz que bicheiros do Rio se organizaram como máfia.

Amauri Arrais Do G1, em São Paulo 

 

Um homem fuma calmamente um cigarro no lado de fora de um bar numa manhã de Nápoles. Outro homem, com um boné de beisebol, entra e ao sair, dispara contra o primeiro à queima-roupa várias vezes – a última vez, na cabeça, com a vítima já caída no chão – e sai andando. Uma mulher, que conferia um bilhete de loteria se afasta, assim como um vendedor de cigarros. Um homem com um bebê olha a vítima e sai andando.


A sequência, que poderia estar em um dos filmes da trilogia "O Poderoso Chefão" ou no seriado de TV "Família Soprano", foi captada por câmeras de segurança no dia 11 de maio. Divulgada por promotores para ajudar na identificação do assassino cinco meses depois, foi exibida pelas TVs italianas e acabou sendo postada no site de vídeos compartilhados Youtube em 30 de outubro, onde, até a última terça-feira (17) havia sido vista por quase 19 mil pessoas.

 

Nas últimas semanas, a prisão de importantes líderes levou autoridades italianas a comemorar o que consideraram um duro golpe contra grupos mafiosos das regiões de Nápoles e Sicília. Vista em perspectiva, no entanto, a ação parece mais um capítulo numa história que remete ao final do século XIX.


É desde esta época que, segundo o historiador italiano Salvatore Lupo, autor de "História da Máfia – Das origens aos nossos dias" (Ed.Unesp), começam a surgir as primeiras menções à máfia. O termo, então, tinha um sentido ambíguo. Segundo Lupo, antes de 1860, o termo 'mafiusu' descrevia um homem de coragem e 'mafiusedda', uma moça bela e orgulhosa.


Já a máfia, num cruzamento entre várias acepções, se referia a "empresa ou tipo de indústria criminosa; como organização secreta mais ou menos centralizada; como ordenamento jurídico paralelo ao Estado, ou como anti-Estado."


Os primeiros grupos, de acordo com o sociólogo e historiador Diego Gambetta, professor da Universidade de Oxford e autor de "The Sicilian Mafia" (A Máfia Siciliana, sem edição brasileira), surgiram após as duas tentativas de golpe sofridas pela ilha italiana, em 1848 e 1860.


Organizados, eles protegiam seus membros no estado de caos. Mesmo com a Itália já unificada, em 1870, muitos destes grupos permaneceram ligados. Nos anos seguintes, outras regiões do sul da Itália também ganhariam suas próprias organizações mafiosas, como a Calábria e Nápoles, berço da Camorra, a quem o sociólogo atribui a provável autoria da execução descrita no início deste texto.

 

Foto: AFP

Imagem de câmera de segurança mostra momento em que membro da máfia é executado em Nápoles, na Itália; vídeo já foi visto por quase 19 mil pessoas (Foto: Reprodução / AFP)

Ainda no final do século XIX, famílias de sicilianos emigraram para os Estados Unidos. Com elas, segundo o sociólogo, a máfia também atravessou o Atlântico, se estabelecendo em grandes cidades, como Nova York e Chicago.


É nos EUA que, segundo Salvatore Lupo, a unidade elementar da organização, chamada na Sicília do século XIX por nomes do tipo quadrilha, rede, partido, sociedade, irmandade, é chamada então de família.

 

"A família de máfia corresponde pouco à família de sangue, e tanto na América quanto na Sicília, ontem como hoje, pode ocorrer que apesar das ideologias familiares, nos conflitos inframafiosos, pais e filhos, irmãos e irmãos, encontrem-se em correntes opostas e matem-se entre si", descreve no livro.


De acordo com o autor, é também na América que surge um nome para designar a organização em seu conjunto, "Cosa Nostra" ("coisa nossa"), buscando, segundo Lupo, contrapor o grupo emigrado de outros e onde também "teria adotado modelos impessoais de organização, instituições centralizadas de governo para evitar uma violência interna primitiva e sobretudo danosa aos negócios".

 

Máfia x crime organizado

Mas o que distingue um grupo mafioso de uma organização criminosa comum, como facções criminosas ou terroristas? "Uma máfia é um grupo de homens unidos pela sua reputação comum para intimidar, que usa esta reputação para 'proteger' e controlar mercados criminosos. Mafiosos ganham seus lucros não diretamente do crime, mas indiretamente, controlando os criminosos. O seu maior capital é sua reputação coletiva pela intimidação", disse ao G1 o sociólogo Diego Gambetta.


Para ele, a distinção entre mafiosos e outros negociantes ilegais, está no fato de que os primeiros negociam "proteção". "Uma gangue que lida com drogas não é uma máfia, mesmo que tenha internalizado uma ala violenta que cuida de sua proteção. Guangues deste tipo, que são encontradas do Rio a Baltimore, são instituições menos eficientes, são mais primitivas e menos evoluídas num submundo no qual não há divisão de papéis, e uma máfia e o negócio que ela protege são organizações distintas."


No livro "A História da Máfia...", o historiador Salvatore Lupo questiona o conceito de Gambetta de que o mafioso vende um "bem específico", a proteção, num contexto histórico em que falta segurança.

 

"Parece discutível a avaliação de Gambetta que subestima o fator extorsão em relação ao fator proteção. [...] Em larga medida é justamente a máfia que cria a insegurança da qual se aproveita, podendo-se dizer que a sua única função é aquela que ela própria determina, visto também que a criminalidade comum constitui a base de recrutamento das quadrilhas."

 

Foto: Reprodução / IMDB

Mafiosos modernos: personagens da série 'Família Soprano', exibido pelo canal de TV a cabo HBO, que mostra o cotiadiano e as dificuldades de um chefe de um grupo de Nova Jersey para manter o negócio (Foto: Reprodução / IMDB)

Para o historiador, "é a máfia que descreve a si mesma como "expressão da sociedade tradicional". "Todo mafioso eminente insiste em apresentar-se sob as vestes do mediador e do pacificador de controvérsias, de tutor da virtude das meninas; pelo menos uma vez na sua carreira, ele ostenta uma 'justiça' rápida e exemplar contra ladrões violentos, estupradores, raptores de crianças. Estamos, por outro lado, diante de um grupo de poder o qual pretende criar consenso externo e solidez interna."


Mais que os ternos brancos, sapatos bicolores e cabelos impecáveis que exibem no cinema, mafiosos se distinguem de bandidos comuns pela continuidade das organizações, que vai além da vida dos seus membros, pelo respeito à estrutura hierárquica, pelos códigos e rituais de ingresso, em grande parte, segundo Lupo, emprestados da marçonaria e do carbonarismo.

 

Máfia à brasileira

Isto não quer dizer que este tipo de organização exista apenas entre os italianos. "Dadas as devidas condições, organizações semelhantes à máfia evoluíram em outras partes do mundo independentemente da máfia siciliana. A Yakuza no Japão, a Tríade, em Hong Kong e, após 1989, a máfia russa se desenvolveu sem nenhuma inspiração nas sicilianas", diz o sociólogo Gambietta, que acaba de lançar "Codes of the Underworld: How Criminals Communicate" (Em tradução literal: "Códigos do submundo: como os criminosos se comunicam", também inédito no Brasil). 

 

"Até onde eu pesquisei, os 'bicheiros' [no Rio] se organizaram de uma maneira muito próxima a uma máfia propriamente dita. Na maneira como eles controlavam não apenas o jogo, mas também outras atividades ilegais, de maneira independente destes mercados, pode ser considerada uma máfia", diz Gambetta.


O professor de Oxford reitera, no entanto, que facções criminosas como as que controlam o tráfico atualmente em grandes cidade brasileiras, como Rio e São Paulo, não podem ser consideradas organizações mafiosas. "As gangues cariocas não são uma máfia, e operam de maneira diferente de uma máfia. Elas são especializadas em apenas um mercado e cuidam de sua proteção diretamente." 

 

Sobrevivência

A atuação em vários segmentos de negócios ilegais ao mesmo tempo é outra característica comum às máfias atuais, segundo os estudiosos. Essa versatilidade é descrita no livro, depois adaptado para o cinema, "Gomorra – A história real de um jornalista infiltrado na máfia napolitana" (Ed. Bertrand Brasil), de Roberto Saviano, que descreve os tentáculos da organização em mercados tão diversos quanto a alta-costura italiana, o mercado das obras de arte, o negócio do lixo e ao tráfico internacional de drogas.

"Do mesmo modo que ontem a ameaça dos bandidos era utilizada para induzir os proprietários fundiários a confiar aos mafiosos o exercício da empresa agrária, assim também hoje, pela ameaça da rapina, da extorsão, da usura, os comerciantes são estimulados a aceitá-los como sócios. [...] Por um lado, [vemos] uma contínua transformação de mafiosos em negociantes, por outro, uma contínua transformação de empresas limpas em empresas genericamente corruptas ou 'contíguas' à máfia", descreve Salvatore Lupo.

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