Gestão da Informação na era da inclusão Social: instrumento de mudança nas Bibliotecas Públicas
Começo talvez, por uma nostalgia do presente, referindo-me ao passado. Assim volto a 1945, na época do final da segunda guerra e ao enorme volume de informação restrita por segredo de guerra e que se tornou pública passando a integrar o fluxo formal de informação disponível ao público.Assim, dentro de uma determinada contemporaneidade de domínio da tecnologia dos sistemas de recuperação da informação, havia um problema bem determinado e uma solução simplista. O problema consistia em como controlar e gerenciar o volume da informação, em um mundo de muitos documentos. A solução técnica operacional trouxe, porém uma "economia de informação" baseada em uma exclusão documental, simbólica e de pessoas, estas por desletramento operacional para lidar com a solução técnica.
O sistema de recuperação da informação obedecia, então, um rígido formalismo técnico que foi necessário aos propósitos do gerenciamento e controle da informação naquela situação. Só a partir dos anos 80 e com novos modelos tecnológicos aconteceu uma modificação no posicionamento dos agentes que operavam a exclusão da informação em função da melhor produtividade do sistema.
Isso aconteceu, principalmente, devido a uma nova compreensão do conceito de que a informação se relaciona com o conhecimento e com o desenvolvimento humano e, assim, qualquer solução correta deveria colocar o homem como prioridade da gestão.
A Internet trouxe a liberdade das vozes, da troca dos enunciados em documentos abertos e colaborativos e da disponibilidade do documento digital para leitura. Acessos e arquivos foram abertos e enormes acervos foram e estão sendo digitalizados e colocados disponíveis e sem custo na web. Mas junto trouxe um novo e maior problema de gestão,
As bibliotecas nacionais e públicas têm com esmerado esforço seguido o rastro das tecnologias intensas e mutantes para diminuir a inclusão digital e por este caminho chegar, talvez, à inclusão social.
Mas grandes barreiras persistem. A primeira barreira é poder comprar o computador, a segunda é poder pagar o acesso a web. A terceira é a proficiência digital do receptor.
O letramento digital emperra o a inclusão digital. Ser digitalmente fluente envolve saber como usar as ferramentas da tecnologia. Mas é preciso, também, saber como construir para si mesmo coisas significativas, com estas ferramentas. Seguir as pegadas do conhecimento em um entrosamento de documentos digitais é como percorrer um labirinto de opções, onde o trajeto para o saber é permitido a cada passo do andar. O caminhante só faz o caminho que é consentido por suas competências em abarcar o conhecer.
Um estudo com excluídos digitais, moradores de rua, na Escócia * analisa o poder que as tecnologias de informação têm em realizar mudanças no bem estar social. Verifica, então, que o estilo de vida daqueles desprivilegiados é nômade e temporário. É construído por uma permanência transeunte que é mediada pela satisfação imediata de suas necessidades básicas. Quando em um ambiente social e econômico estável existe o desejo e a motivação para a mudança, e tudo se comporta adequadamente e de outra forma.
Mas estes grupos de excluidos formam uma sub-cultura, de moradores de rua, descrita no estudo como caótica, usando o termo para indicar uma vida sem organização e de eventos errantes e imprevisíveis. A rota da inclusão social é uma realidade muito complexa e requer muitos mais fatores do que só o acesso e o uso da potencialidade da tecnologia digital.
Foi aberto a estes excluídos socialmente o acesso, através das bibliotecas públicas, de um instrumental de condições de acesso digital, como a doação de um celular aberto, uma conta de email aberta, acesso ilimitado a web e aos computadores das bibliotecas públicas que permeassem sua passagem. Após algum tempo se reexaminou o grupo estudado e foi verificado que a inclusão digital em nada contribuiu ou ocasionou qualquer inclusão social ou sequer uma modificação qualitativa na vida das pessoas daquele grupo.
Assim, devemos olhar além da visão determinista de que a tecnologia trará sempre e somente benefícios positivos pela sua implantação e trajeto. As novas tecnologias digitais, somente, não resolvem o processo de ajudar indivíduos socialmente empobrecidos a mudar suas vidas para o melhor. A inclusão digital não gera, necessariamente, inclusão social.
Democratizar a informação em sentido da inclusão social não pode envolver somente programas para facilitar e aumentar o acesso a este tipo de informação. É necessário que o indivíduo que a receba tenha condições (até de uma vida organizada) para elaborar este insumo recebido, transformando-o em conhecimento esclarecedor e libertador, em benefício próprio e da sociedade onde vive. A grande força da inclusão social pela informação é a educação, em todos os seus sentidos.
* Digital Inclusion without Social Inclusion: The Consumption of Information and Communication Technologies (ICTs) in Homeless Subculture in Central Scotland. Artigo de Claire E. Buré, Universidade de Edimburgo para o The Journal of Community Informatics , Vol. 2, No. 2
http://ci-journal.net/index.php/ciej/article/view/251/212
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