A mudança estrutural da solidão fundamental
Um propósito da ciência da informação é o de conhecer e fazer acontecer o tênue fenômeno de percepção da informação pela consciência; percepção que, conduz ao conhecimento do objeto percebido.A Essência do fenômeno da informação é a sua intencionalidade. Uma mensagem de informação deve ser direcionada, arbitrária e contingente para atingir o seu destino; produz sempre tensão quando da interatuação de competências distintas existentes em dois mundos: o do gerador e o do receptor da informação para onde o conhecimento se destina.
Assim, também, nos momentos de passagem o fenômeno da informação tem sua particularidade mais bela, pois transcende ali a solidão fundamental de todo ser humano pensante, quando um pensamento criador se faz informação inscrita e esta informação se quer conhecimento no receptor. Esta é a qualidade e a característica contida no fluxo de informação, que por isto é raro e surpreendente.
No processo de transferência de uma mensagem os eventos são claros: as pessoas falam e escrevem, se comunicam entre si. Todo ato de conhecimento está associado ao conteúdo significante de uma informação e representa uma cerimônia com ritos próprios; uma passagem simbolicamente mediada, mas por uma condição da solidão fundamental do indivíduo que interioriza pela percepção.
Tanto o emissor quanto o receptor da informação, vivem em uma ambiência privada, seja para a criação como para o entendimento da coisa; é uma cerimônia que acontece em mundos diferentes: o da criação e o da interiorização. Contudo, só a informação explicita, inscrita e formatada transita na esfera pública, espaço da disponibilidade e do acesso.
Uma escrita é formada pelas inscrições que uma linguagem fixou em um determinado formato de suporte; uma agregação que compõe um todo significante. O traço que uma escrita fixou.
A escrita pode estar em um texto linear ou em uma escritura digital que é denunciada pela marca de uma escrita com a possibilidade de apresentar no mesmo formato uma explanação visual, gestual, figural, musical, verbal.
A escritura digital é externa à linguagem, pois agrega outros sentidos ao entendimento e não se prende a visão linear de uma escrita de enunciação continua. Na escrita intertextual uma palavra pode levar a mil imagens.
Convivemos, cada vez mais intensamente, com estaescrita a aberta.O interesse na leitura digital e suas possibilidades vagueantes vem da sedução da viagem por espaços entrelaçados; a escritura digital traz um novo paradigma para a marca da escrita e o para imaginário na leitura. Traz diversidade cultural e novas políticas de Informação.
As bases acêntricas de inscrição da narrativas foram virtualizadas. Estamos convivendo com um novo padrão de escrita e leitura. Presenciando momentos fascinantes de transformação nos padrões de comunicação. Não se trata mais da Internet, que já é uma velha tecnologia, mas vivemos agora o arrebato das conseqüências que esta provocou.
A escrita pós-Internet, sem mudar o código, mudou sua condição de uso da escrita. A escritura não é fixa em uma única base e passeia por diferentes espaços para explicar ou enriquecer seu tema com diversidade cultural e multiculturalismo.
A condição de leitura não permanece a mesma. O deciframento, ainda vai de signo a signo, mais o signo se espacializou e sua agregação exige cada vez mais uma apresentação com visualização amigável que elimine o estresse.
De alguma forma a leitura hoje é imagética em sua visualização. Os canais físicos de transferência são diferentes em estrutura e velocidade e a interatuação psicológica necessária para manter em contato emissor e receptor. Mas, a inscrição em formatação digital, como a magia, é mais profunda que a tecnologia, pois opera na dimensão das sensações espaciais quando das percepções do imaginário.
A imaginação da coisa e sua representação foram modificadas, pois a coisa imaginada dispersou-se em um fluxo continuo de significados que vão em se fazendo. No espaço cibernético o significante explodiu em novas paisagens do imaginário. Nesta configuração a imaginação simbólica transformou todas as possibilidades do traçado da escrita e da interiorização da leitura.
Os enunciados pré-formatados de uma escrita linear de pensamento convergente foram substituídos por uma nova sociabilidade do signo pautada no ambiente de uma representação potencial, adiada.
O imaginário explodiu nos formatos do meio eletrônico "adiando" o significado dos enunciados até que se percorra todo o caminho dos textos entrelaçados. Palavras e enunciados tem na condição digital um caminho de significantes libertados de uma relação biunívoca.
Um enunciado atribuído por uma linguagem padrão tem no formato digital um adiamento dos caminhos do significado. Uma nova condição do imaginário que vai além de um único signo atribuído. O significado nunca é total em uma composição digital permeada por narrativas paralelas. Todos os significados ficam com sua percepção "adiada" e em fluxo até que se complete a trilha escolhida pelo receptor para seu caminho.
O caminhante tem no caminho da assimilação infinitas opções de referências potenciais e o caminhar só é esmaecido pelas contingências do conhecer.
Aldo de Albuquerque Barreto
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