IMIGRAÇÃO
COLÔNIA ALESSANDRA DE SAVINO TRIPOTI
Engenheira Química Jussara Nena Cavanha Almeida
Savino
Tripoti, proprietário da Colônia Alessandra, foi escolhido como bode expiatório
para justificar o fracasso do processo de importação de imigrantes destinados à
formação de colônias agrícolas no Brasil durante a década de 1870.
Como
muitos outros empresários Savino Tripoti assinou contrato com o Governo
Imperial para a implantação de colônias agrícolas particulares em solo
brasileiro. Os contratos assinados previam que o governo subvencionaria a
importação dos imigrantes necessários para a implantação dos projetos.
Tripoti
adquiriu terras com recursos próprios conforme consta de escrituras públicas
lavradas no Primeiro Tabelionato de Paranaguá, as quais se encontram
preservadas e foram transcritas no livro Colônia Alessandra. Seu procurador
Manoel Antonio Guimarães, o Visconde de Nacar, escolheu para fixação do
empreendimento terras limitadas pelos rios Vermelho, Ribeirão, Boguaçú,
Emboguaçú e Toral. Esta área, a pouca
de distância de Paranaguá-Paraná, já havia sido apontada como fértil e adequada
para a implantação de colônia agrícola do Estado em documento encaminhado ao
presidente da Província pela Câmara de Paranaguá no ano de 1871, documento este
preservado pelo Arquivo Público do Paraná e transcrito no livro Colônia
Alessandra.
Para poder receber em adiantamento 5:000$000
(cinco contos de reis), parte dos
200:000$000 (duzentos contos de reis) previstos como subvenção a ser
paga pelo governo brasileiro ao empresário para importação de
imigrantes,Tripoti assinou contrato com a Fazenda Nacional. Giácomo Nicoláo de Vicenzi interveio como
fiador neste contrato. Como garantia para que pudesse ser liberado o adiantamento
Tripoti hipotecou as terras da Colônia para o mencionado empresário. Em 1873,
através de escritura pública preservada pelo Arquivo Nacional e transcrita no
livro Colônia Alessandra, a hipoteca foi liberada passando as terras da Colônia
a garantir adiantamento de 30:000$000 ( trinta contos de reis). O valor das
terras avaliadas em 29:640$000 (vinte e nove contos, seiscentos e quarenta mil
reis) foi complementado pelo depósito de 360$000 (trezentos e sessenta mil
reis) efetuado em dinheiro por Tripoti diretamente na Thesouraria do Thezouro Nacional conforme registrado na
escritura acima referida.
Embora
enfrentasse dificuldades para atrair colonos para seu empreendimento o trabalho desenvolvido pelo empresário e os colonos
então assentados na Alessandra logo frutificou e seus produtos chegaram a
receber diplomas de honra na Feira Mundial da Philadelphia no ano de 1876,
conforme atesta documento preservado pelo Arquivo Público do Paraná.
Em
Janeiro de 1877 aportou no Rio de Janeiro o vapor Isabella trazendo 574
imigrantes sendo 362 contratados pelo agente de imigração Joaquim Caetano Pinto
Junior com destino a colônias do Estado e os restantes por Savino Tripoti,
destinados a sua colônia particular. Ou seja, por vários dias conviveram
pessoas com destinos diversos e com instruções diferentes quanto à forma a
serem estabelecidas no Brasil. Os contratados por Caetano Pinto traziam
panfleto que os motivara a emigrar e onde constava que o Brasil doaria terras e
utensílios. Os contratados por Savino Tripoti haviam assinado, antes do
embarque, documento no qual constava que estavam cientes que eram destinados a
uma colônia particular e que deveriam pagar pela terra e todos os benefícios
que lhes fossem adiantados. Então, confinados em um mesmo espaço 24h por vários
dias era natural que a troca de informações induzisse os destinados à colônia
particular a reivindicar as mesmas vantagens prometidas aos destinados a
colônias do Estado.
Depois
que chegaram para a Colônia Alessandra e lhes foi distribuído viveres e os
lotes para assentamento os imigrantes passaram a reivindicar os privilégios que
constavam no panfleto, do qual receberam exemplar durante a viagem, conforme
registrou Savino Tripoti em seu Memorial enviado ao Ministro da Agricultura,
reproduzido no livro Colônia Alessandra, e atestou o Agente Oficial de
Colonização Sebastião Marques de Souza em carta entregue pelo Engenheiro Parigot ao presidente da Província, preservada pelo Arquivo Público do Paraná.
Na
carta o agente registrou que tanto ele quanto o engenheiro eram testemunhas da
recusa dos imigrantes em permanecer na colônia particular e a exigência de
serem transferidos para colônias do Estado onde receberiam tudo gratuitamente.
Também o agente solicitava uma medida pronta e eficaz para solucionar aquela
emergência. Muitos são os telegramas enviados por Tripoti, os quais se
encontram no acervo do Arquivo Público do Paraná, solicitando ao presidente o
envio da força pública para controlar a rebelião.
Lamenha
Lins, então presidente da Província do Paraná, não atendeu aos apelos do
empresário da Colônia Alessandra e do agente da colonização. Este descaso
serviu para reforçar para os imigrantes a ideia de que Tripoti os estava
enganando e a insurreição tomou corpo. Quando finalmente o presidente se
dirigiu à Colônia Alessandra ao invés apaziguar os ânimos provando que pela lei
brasileira o imigrante deveria pagar pela terra que fosse ocupar, fosse ela em
colônia particular ou do Estado, Lamenha Lins aceitou a imposição dos
imigrantes e prometeu que a colônia seria transferida para o governo, alimentando
assim a esperança dos revoltosos de que
em breve seria cumprida a promessa de
que receberiam graciosamente terras e ferramentas para se instalar como
pequenos proprietários rurais. Foi uma demonstração de fraqueza da parte de
Lamenha Lins que acabaria por decretar o fim da Colônia fundada por Savino
Tripoti.
Após
Lamenha Lins se retirar da Colônia os imigrantes passaram a depredar parte das
instalações físicas da Colônia e a ameaçar a integridade física do empresário e
seus empregados.
As
notícias do motim não tardaram a chegar ao Rio de Janeiro e o fornecedor de
víveres para a Colônia, a Casa Fiorita, cortou os fornecimentos contratados por
Tripoti. Este se viu forçado a admitir que
perdera a condição de alimentar os colonos recém chegados e os que
estavam a caminho.
A
partir do momento que Lamenha Lins não enfrentou a rebelião e cedeu à vontade
dos revoltosos Tripoti entendeu que não conseguiria restabelecer a ordem e que
os outros indivíduos que estavam embarcados a caminho da Colônia iriam acompanhar
as exigências dos rebeldes e se recusariam a pagar pelas terras que viessem a
ocupar. Então decidiu entregar o empreendimento ao Governo mediante
indenização, conforme documentos que constam do acervo do Arquivo Público do
Paraná.
A
proposta feita pelo representante do governo, Inspetor Alfredo Chaves, para
aquisição da propriedade não foi aceita por Tripoti. Como Alfredo Chaves não convenceu Tripoti a ceder seu
empreendimento para o governo e para evitar que o Estado tivesse que indenizar
os direitos de Tripoti em relação às despesas efetuadas pelo empresário com o
transporte dos colonos que estavam chegando Alfredo Chaves tentou caracterizar
como imigração espontânea a chegada daqueles indivíduos e transferiu parte deles para a Colônia
Pereira e posteriormente para Morretes, onde foram instalados na pequena Colônia Nossa Senhora do Porto
ali existente e que mais tarde deu
origem à Colônia Nova Itália. Estes episódios estão registrados em documentos
que hoje fazem parte do acervo do Arquivo Público do Paraná.
Considerando-se
credor a título de adiantamentos da subvenção devida ao empresário por conta do
pagamento das despesas contratuais para importação de imigrantes destinados ao
projeto Colônia Alessandra, o Governo Imperial sequestrou a Colônia e moveu
ação judicial em face de Savino Tripoti.
O empresário foi constrangido a deixar a Colônia e o governo assumiu o
empreendimento. Foi nesta ocasião que houve alteração do nome para Colônia
Alexandra. Ao final do processo judicial movido em face de Savino Tripoti pela
Fazenda Nacional ficou provado que o empresário era credor do Governo. Como o
pagamento era postergado a cada legislatura o Governo Italiano interveio. A
questão foi resolvida pelo Ministro do Brasil na Bolívia conforme relatório
apresentado pelo Ministro e Secretário dos Negócios Estrangeiros Francisco de
Carvalho Soares Brandão, apresentado à Assembléa Geral Legislativa na quarta
sessão da décima oitava legislatura, ano 1883.
Os
imigrantes que permaneceram na Colônia após a intervenção do governo foram
impedidos de deixar o local dando início ao período conhecido como
Purgatório. As máquinas e equipamentos
que compunham os engenhos e outras unidades fabris implantados por Tripoti se
deterioraram pela falta de manutenção conforme atestam documentos preservados
pelo Arquivo Público do Paraná. Os imigrantes continuaram plantando,
porém, pela falta de equipamentos para beneficiar a colheita e
também a falta de estrada carroçável
para levar o produto do trabalho
para venda nos mercados próximos,
acabaram em condições miseráveis. Como se observa nos documentos
preservados o Ministro Sinimbú
determinou a liberação de recursos para a construção de um engenho central na
Colônia Alexandra mas os ditos recursos jamais chegaram ao seu destino.
Já
sem esperanças, e em condições deploráveis no ano de 1879 os imigrantes
enviaram carta ao presidente da Província,
reproduzida no livro Colônia Alessandra, onde consta um dramático apelo:
“DAE NOS PÃO POR MEIO DO TRABALHO”.
Solicitavam ao governo a construção de estrada que ligasse a Colônia com
Paranaguá para transportar a produção a ser comercializada e escolas para as
crianças. Não foram atendidos. No ano
de 1880 muitas famílias da Alexandra se engajaram na construção da Estrada de
Ferro Paranaguá – Curitiba e rumaram para a Capital em busca de melhores
condições.
O
alto grau de periculosidade que envolvia a abertura de tuneis nas rochas e o
assentamento das fundações das pontes a beira do precipício propiciava
acidentes frequentes e não poucas vezes fatais. Este foi o motivo pelo qual
algumas famílias preferiram permanecer na Alexandra ocupando a área hoje
denominada Morro dos Ingleses, às margens da BR 277 sentido Curitiba -
Paranaguá. Vivem atualmente naquele local descendentes de colonos imigrantes,
cultivando a terra e desfrutando de prosperidade.
Historiadores
atribuem a Savino Tripoti a responsabilidade pelo infortúnio de milhares de
imigrantes italianos e austríacos que rumaram para o Brasil na década de 1870.
Omitem o contrato entre Joaquim Caetano
Pinto Junior e o Governo Imperial
embora este empresário tenha sido
o verdadeiro responsável pelo transporte da maioria esmagadora de
indivíduos que deixaram a Europa rumo ao Brasil naquele período, contrato
este que acabou por desestabilizar o
programa de atração de agricultores para o Brasil orientada pelo Decreto nº
3784 de 19 de Janeiro de 1867, conforme registros preservados pelo Arquivo
Nacional.
Ref.: Cavanha,
Jussara Nena – Colônia Alessandra – Editora Progressiva, 2012 - Curitiba.
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