quarta-feira, 25 de setembro de 2013

IMIGRAÇÃO - COLÔNIA ALESSANDRA DE SAVINO TRIPOTI

IMIGRAÇÃO
COLÔNIA ALESSANDRA DE SAVINO TRIPOTI

Engenheira Química Jussara Nena  Cavanha Almeida



Savino Tripoti, proprietário da Colônia Alessandra, foi escolhido como bode expiatório para justificar o fracasso do processo de importação de imigrantes destinados à formação de colônias agrícolas no Brasil durante a década de 1870.

Como muitos outros empresários Savino Tripoti assinou contrato com o Governo Imperial para a implantação de colônias agrícolas particulares em solo brasileiro. Os contratos assinados previam que o governo subvencionaria a importação dos imigrantes necessários para a implantação dos projetos.

Tripoti adquiriu terras com recursos próprios conforme consta de escrituras públicas lavradas no Primeiro Tabelionato de Paranaguá, as quais se encontram preservadas e foram transcritas no livro Colônia Alessandra. Seu procurador Manoel Antonio Guimarães, o Visconde de Nacar, escolheu para fixação do empreendimento terras limitadas pelos rios Vermelho, Ribeirão, Boguaçú, Emboguaçú e Toral.  Esta área, a pouca de distância de Paranaguá-Paraná, já havia sido apontada como fértil e adequada para a implantação de colônia agrícola do Estado em documento encaminhado ao presidente da Província pela Câmara de Paranaguá no ano de 1871, documento este preservado pelo Arquivo Público do Paraná e transcrito no livro Colônia Alessandra.

 Para poder receber em adiantamento 5:000$000 (cinco contos de reis), parte dos   200:000$000 (duzentos contos de reis) previstos como subvenção a ser paga pelo governo brasileiro ao empresário para importação de imigrantes,Tripoti assinou contrato com a Fazenda Nacional.  Giácomo Nicoláo de Vicenzi interveio como fiador neste contrato. Como garantia para que pudesse ser liberado o adiantamento Tripoti hipotecou as terras da Colônia para o mencionado empresário. Em 1873, através de escritura pública preservada pelo Arquivo Nacional e transcrita no livro Colônia Alessandra, a hipoteca foi liberada passando as terras da Colônia a garantir adiantamento de 30:000$000 ( trinta contos de reis). O valor das terras avaliadas em 29:640$000 (vinte e nove contos, seiscentos e quarenta mil reis) foi complementado pelo depósito de 360$000 (trezentos e sessenta mil reis) efetuado em dinheiro por Tripoti diretamente  na Thesouraria do Thezouro Nacional conforme registrado na escritura acima referida.

Embora enfrentasse dificuldades para atrair colonos para seu empreendimento o trabalho desenvolvido pelo empresário e os colonos então assentados na Alessandra logo frutificou e seus produtos chegaram a receber diplomas de honra na Feira Mundial da Philadelphia no ano de 1876, conforme atesta documento preservado pelo Arquivo Público do Paraná.

Em Janeiro de 1877 aportou no Rio de Janeiro o vapor Isabella trazendo 574 imigrantes sendo 362 contratados pelo agente de imigração Joaquim Caetano Pinto Junior com destino a colônias do Estado e os restantes por Savino Tripoti, destinados a sua colônia particular. Ou seja, por vários dias conviveram pessoas com destinos diversos e com instruções diferentes quanto à forma a serem estabelecidas no Brasil. Os contratados por Caetano Pinto traziam panfleto que os motivara a emigrar e onde constava que o Brasil doaria terras e utensílios. Os contratados por Savino Tripoti haviam assinado, antes do embarque, documento no qual constava que estavam cientes que eram destinados a uma colônia particular e que deveriam pagar pela terra e todos os benefícios que lhes fossem adiantados. Então, confinados em um mesmo espaço 24h por vários dias era natural que a troca de informações induzisse os destinados à colônia particular a reivindicar as mesmas vantagens prometidas aos destinados a colônias do Estado.

Depois que chegaram para a Colônia Alessandra e lhes foi distribuído viveres e os lotes para assentamento os imigrantes passaram a reivindicar os privilégios que constavam no panfleto, do qual receberam exemplar durante a viagem, conforme registrou Savino Tripoti em seu Memorial enviado ao Ministro da Agricultura, reproduzido no livro Colônia Alessandra, e atestou o Agente Oficial de Colonização Sebastião Marques de Souza em carta entregue pelo Engenheiro  Parigot ao presidente da Província,  preservada pelo Arquivo Público do Paraná.

Na carta o agente registrou que tanto ele quanto o engenheiro eram testemunhas da recusa dos imigrantes em permanecer na colônia particular e a exigência de serem transferidos para colônias do Estado onde receberiam tudo gratuitamente. Também o agente solicitava uma medida pronta e eficaz para solucionar aquela emergência. Muitos são os telegramas enviados por Tripoti, os quais se encontram no acervo do Arquivo Público do Paraná, solicitando ao presidente o envio da força pública para controlar a rebelião.

Lamenha Lins, então presidente da Província do Paraná, não atendeu aos apelos do empresário da Colônia Alessandra e do agente da colonização. Este descaso serviu para reforçar para os imigrantes a ideia de que Tripoti os estava enganando e a insurreição tomou corpo. Quando finalmente o presidente se dirigiu à Colônia Alessandra ao invés apaziguar os ânimos provando que pela lei brasileira o imigrante deveria pagar pela terra que fosse ocupar, fosse ela em colônia particular ou do Estado, Lamenha Lins aceitou a imposição dos imigrantes e prometeu que a colônia seria transferida para o governo, alimentando assim a esperança  dos revoltosos de que em breve  seria cumprida a promessa de que receberiam graciosamente terras e ferramentas para se instalar como pequenos proprietários rurais. Foi uma demonstração de fraqueza da parte de Lamenha Lins que acabaria por decretar o fim da Colônia fundada por Savino Tripoti.

Após Lamenha Lins se retirar da Colônia os imigrantes passaram a depredar parte das instalações físicas da Colônia e a ameaçar a integridade física do empresário e seus empregados.

As notícias do motim não tardaram a chegar ao Rio de Janeiro e o fornecedor de víveres para a Colônia, a Casa Fiorita, cortou os fornecimentos contratados por Tripoti. Este se viu forçado a admitir que  perdera a condição de alimentar os colonos recém chegados e os que estavam a caminho.

A partir do momento que Lamenha Lins não enfrentou a rebelião e cedeu à vontade dos revoltosos Tripoti entendeu que não conseguiria restabelecer a ordem e que os outros indivíduos que estavam embarcados a caminho da Colônia iriam acompanhar as exigências dos rebeldes e se recusariam a pagar pelas terras que viessem a ocupar. Então decidiu entregar o empreendimento ao Governo mediante indenização, conforme documentos que constam do acervo do Arquivo Público do Paraná.

A proposta feita pelo representante do governo, Inspetor Alfredo Chaves, para aquisição da propriedade não foi aceita por Tripoti.  Como Alfredo Chaves não convenceu Tripoti a ceder seu empreendimento para o governo e para evitar que o Estado tivesse que indenizar os direitos de Tripoti em relação às despesas efetuadas pelo empresário com o transporte dos colonos que estavam chegando Alfredo Chaves tentou caracterizar como imigração espontânea a chegada daqueles indivíduos e  transferiu parte deles para a Colônia Pereira e posteriormente para Morretes, onde foram instalados  na pequena Colônia Nossa Senhora do Porto ali existente e  que mais tarde deu origem à Colônia Nova Itália. Estes episódios estão registrados em documentos que hoje fazem parte do acervo do Arquivo Público do Paraná.

Considerando-se credor a título de adiantamentos da subvenção devida ao empresário por conta do pagamento das despesas contratuais para importação de imigrantes destinados ao projeto Colônia Alessandra, o Governo Imperial sequestrou a Colônia e moveu ação judicial em face de Savino Tripoti.  O empresário foi constrangido a deixar a Colônia e o governo assumiu o empreendimento. Foi nesta ocasião que houve alteração do nome para Colônia Alexandra. Ao final do processo judicial movido em face de Savino Tripoti pela Fazenda Nacional ficou provado que o empresário era credor do Governo. Como o pagamento era postergado a cada legislatura o Governo Italiano interveio. A questão foi resolvida pelo Ministro do Brasil na Bolívia conforme relatório apresentado pelo Ministro e Secretário dos Negócios Estrangeiros Francisco de Carvalho Soares Brandão, apresentado à Assembléa Geral Legislativa na quarta sessão da décima oitava legislatura, ano 1883.

Os imigrantes que permaneceram na Colônia após a intervenção do governo foram impedidos de deixar o local dando início ao período conhecido como Purgatório.  As máquinas e equipamentos que compunham os engenhos e outras unidades fabris implantados por Tripoti se deterioraram pela falta de manutenção conforme atestam documentos preservados pelo Arquivo Público do Paraná. Os imigrantes continuaram plantando, porém,  pela falta de   equipamentos para beneficiar a colheita e também a falta de estrada carroçável  para  levar o produto do trabalho para venda nos mercados próximos,  acabaram em condições miseráveis. Como se observa nos documentos preservados  o Ministro Sinimbú determinou a liberação de recursos para a construção de um engenho central na Colônia Alexandra mas os ditos recursos jamais chegaram ao seu destino.

Já sem esperanças, e em condições deploráveis no ano de 1879 os imigrantes enviaram carta ao presidente da Província,  reproduzida no livro Colônia Alessandra, onde consta um dramático apelo: “DAE NOS PÃO POR MEIO DO TRABALHO”. Solicitavam ao governo a construção de estrada que ligasse a Colônia com Paranaguá para transportar a produção a ser comercializada e escolas para as crianças.  Não foram atendidos. No ano de 1880 muitas famílias da Alexandra se engajaram na construção da Estrada de Ferro Paranaguá – Curitiba e rumaram para a Capital em busca de melhores condições.

O alto grau de periculosidade que envolvia a abertura de tuneis nas rochas e o assentamento das fundações das pontes a beira do precipício propiciava acidentes frequentes e não poucas vezes fatais. Este foi o motivo pelo qual algumas famílias preferiram permanecer na Alexandra ocupando a área hoje denominada Morro dos Ingleses, às margens da BR 277 sentido Curitiba - Paranaguá. Vivem atualmente naquele local descendentes de colonos imigrantes, cultivando a terra e desfrutando de prosperidade.

Historiadores atribuem a Savino Tripoti a responsabilidade pelo infortúnio de milhares de imigrantes italianos e austríacos que rumaram para o Brasil na década de 1870. Omitem o contrato entre  Joaquim Caetano Pinto Junior e o Governo Imperial  embora este empresário tenha sido  o verdadeiro responsável pelo transporte da maioria esmagadora de indivíduos que deixaram a Europa rumo ao Brasil naquele período, contrato este  que acabou por desestabilizar o programa de atração de agricultores para o Brasil orientada pelo Decreto nº 3784 de 19 de Janeiro de 1867, conforme registros preservados pelo Arquivo Nacional.



Ref.: Cavanha, Jussara Nena – Colônia Alessandra – Editora Progressiva, 2012 - Curitiba.





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