terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Os Diários do Imperador

Documentos sobre viagens de D. Pedro II podem entrar na lista de Patrimônio Histórico da Humanidade em 2012


D. Pedro I enfrentou três guerras, abdicou do trono e morreu cedo, aos 35 anos. Coube a D. Pedro II aproveitar o lado bom da vida de imperador. Interessado por artes e ciência, fez várias viagens pelo Brasil e pelo mundo, passando por Europa, Estados Unidos, Egito, Líbano e diversos outros países. Nessas ocasiões, encontrava as elites locais, ia a jantares, museus e eventos. Tudo isso está registrado em cerca de novecentos documentos, entre diários pessoais e desenhos do imperador, correspondências, programas de teatro, relatórios de despesas e jornais da época.

A coleção pertence ao Museu Imperial de Petrópolis, no estado do Rio de Janeiro, e acaba de entrar para o Registro Nacional do Programa Memória do Mundo, da Unesco. Nos próximos anos, o museu pretende captar recursos para digitalizar o material, disponibilizá-lo na Internet, publicar os diários e organizar uma grande exposição. E para 2012, há mais um plano para a coleção: concorrer ao título de Patrimônio Histórico da Humanidade, também conferido pela Unesco.

A primeira viagem de D. Pedro ao exterior foi em 1871, para a Europa e o Egito. A segunda começou em 1876 nos Estados Unidos, onde conheceu Graham Bell e o telefone. Nos diários, o imperador conta a experiência com o invento, que chegou ao Brasil pouco tempo depois. “D. Pedro viajou mais que qualquer governante da época. Ele tinha subvenções, mas dizem que pegou até dinheiro emprestado para viajar. Sempre trazia objetos para sua coleção particular, mas também fazia doações”, conta Lúcia Guimarães, historiadora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e sócia titular do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB).

O acervo relativo às viagens foi doado ao museu, em 1948, pelo príncipe D. Pedro Gastão de Orleans e Bragança, neto da princesa Isabel. “Com o início da República, a família real separou os papéis particulares dos oficiais, e levou todos os particulares para a Europa. Só depois trouxeram de volta. Temos aqui cerca de 60 mil documentos”, explica Neibe Cristina Machado da Costa, responsável pelo Arquivo Histórico do museu. Nem toda a papelada pertenceu ao imperador. Há, por exemplo, o diário da condessa de Barral [Ver “A outra metade”, p. 20], amante que o acompanhou em algumas viagens. A coleção também inclui cartas enviadas pelo príncipe de Gales, por Louis Pasteur e por Carl Friedrich Philipp von Martius.

No entanto, o que mais chama atenção são os diários, onde o imperador descreve lugares, pessoas e encontros que teve mundo afora. “Poucos governantes deixaram diários de viagem assim. Ele foi até o Egito ver as escavações e anotou tudo minuciosamente. E sempre comparava com o que já havia lido sobre os lugares”, explica Lúcia. Segundo a historiadora, há muitas fotos desses passeios espalhadas pelos arquivos do museu, da Biblioteca Nacional e do IHGB. Com o prêmio, o material de Petrópolis estará na Internet, mas os pesquisadores ainda poderão fazer descobertas valiosas revirando os outros acervos.


FONTE: RHBN



Saiba mais: Museu Imperial
Rua da Imperatriz, 222, Centro - Petrópolis.
Telefones: (24) 2245-1627 e (24) 2245-1675.

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Demarcação de território

Pesquisadores da UFRN pretendem disponibilizar na Internet mais de 16 mil cartas de sesmarias

O reino português passou por maus bocados com uma crise de abastecimento no século XIV. Para melhorar a situação, as terras não cultivadas passaram a ser doadas a novos donos pelo sistema de sesmarias. A lei chegou ao Brasil no início da colonização, com Martim Afonso de Souza, na década de 1530. Até hoje não se sabe quantos títulos de propriedade, chamados cartas de sesmarias, foram concedidos. Pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte estimam que sejam entre 16 mil e 20 mil. Eles já fizeram o levantamento desses documentos em alguns estados do Nordeste, e lançaram este ano o banco de dados Plataforma Silb – Sesmarias do Império Luso-Brasileiro.

Até abril, o portal na Internet terá cerca de mil inserções, entre mapas, legislação referente às sesmarias e cópias das cartas. “Temos grande parte dos documentos aqui, mas muita coisa está espalhada por outros arquivos do país. Vamos tentar parcerias com os estados”, conta Carmen Alveal, coordenadora do projeto. Segundo ela, um dos objetivos é conferir quantas cartas concedidas aqui têm confirmação nos arquivos de Portugal. A equipe calcula algo em torno de 20%, o que comprovaria que o Brasil, na verdade, foi majoritariamente ocupado por posse.

O endereço da Plataforma Silb é www.cchla.ufrn.br/silb 

FONTE: RHBN

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Engenho de portas fechadas

01/01/2011


Aos 40 anos, o Museu do Recôncavo Wanderley Pinho, na Bahia, está passando por restauro. A casa do século XVIII será reaberta em 2014


Desde o século XVIII, moradores e visitantes do Engenho Freguesia, no município de Candeias, na Bahia, aproveitavam a vista do mar calmo da Baía de Todos os Santos. Também se encantavam com os quatro andares do casarão, com 55 cômodos, uma capela e o acervo de mais de 200 peças produzidas desde o século XVII, entre roupas, pinturas, objetos de decoração e móveis. Na última década, no entanto, só alguns funcionários puderam circular pelo local. Sem passar por reformas desde a década de 1970, o prédio corria o risco de desabar. A um mês de completar 40 anos como sede do Museu do Recôncavo Wanderley Pinho, o casarão está sendo restaurado, e só deverá ser reaberto em 2014. O dinheiro é curto, mas já há muitos planos para o futuro, como expor peças de arte contemporânea nos jardins. 

No lugar onde hoje está o casarão, antes havia outro engenho, saqueado e incendiado por holandeses no século XVII. Desde que foi reconstruído, no século seguinte, passou por períodos de apogeu e decadência até chegar às mãos de José Wanderley de Araújo Pinho (1890-1967), herdeiro que idealizou o museu. Pinho ocupou diversos cargos públicos e defendeu no Congresso Nacional um projeto que acabou levando à criação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O órgão tombou o casarão, e em fevereiro de 1971 o museu foi inaugurado.

"Este é um dos poucos lugares no Recôncavo Baiano que mantêm a arquitetura de engenho original. Mas não dava nem para entrar ali. Chovia dentro da casa, as vigas de madeira estavam podres. Às vezes eu penso: será que eles queriam que a casa realmente caísse?", questiona Daniel Rangel, responsável pela Diretoria de Museus do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Dimus). O acervo, incluindo o mobiliário original do casarão, não sofreu danos graves porque está armazenado no Palácio da Aclamação, em Salvador, há cerca de dez anos. A casa ficou vazia, mas as obras só começaram em 2009. As estruturas foram estabilizadas, o telhado e os pisos foram trocados, e, até junho, toda a parte externa também estará recuperada.

O projeto recebeu auxílio da Petrobras e do governo da Bahia, mas ainda falta muito para se chegar aos R$ 9 milhões necessários para as obras. Uma etapa que precisa de financiamento é a reconstrução da fábrica de açúcar, que acabou ruindo nos últimos anos. "Visitei o museu nos anos 1980, e parte da fábrica ainda estava inteira. Tinha atores encenando como se moía a cana e fazia cachaça, naqueles fornos e panelas gigantes", diz Rangel. A equipe também já começa a pensar em projetos futuros para atrair mais visitantes. Candeias tem uma população pequena, e poucas escolas de Salvador, a 65 quilômetros dali, tinham o hábito de fazer o passeio até o museu. As ideias incluem o aproveitamento da área do entorno, considerada patrimônio natural, para a criação de um centro de pesquisas biológicas, e a construção, ao lado, de um hotel ou pavilhão.




FONTE: Revista de História da Biblioteca Nacional

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Mais de 40 profissionais do Memorial do Imigrante desempregados

O Memorial do Imigrante de São Paulo não será mais gerido pela Organização Social de Cultura AAMI – Associação de Amigos do Memorial do Imigrante, atualmente Instituto de Museus, Memórias e Identidades – IMMI.

A Secretaria de Estado da Cultura decidiu também transferir todo o acervo documental do Memorial para o Arquivo do Estado de São Paulo.

O Contrato de Gestão entre a Secretaria de Estado de Cultura do Governo do Estado de São Paulo e o IMMI que vigorou nos últimos cinco anos não será renovado. Oficio assinado pelo Secretário Andrea Matarazzo endereçado à nossa Organização Social determina que todas as atividades, projetos, convênios e compromissos nacionais e internacionais, relativos ao Memorial do Imigrante incluindo os de gestão de pessoal, sejam encerrados. Desde 20 de dezembro de 2010 todos os 40 funcionários, diretores e assessores estão demitidos. Outra Organização Social de Cultura nos substituirá na gestão do Memorial do Imigrante. A Secretaria promoveu uma discretíssima e desnecessária chamada pública para interessados em gerir o Memorial por 6 meses. Surpreendidos com a decisão do novo Secretário, a princípio, consideramos a possibilidade de concorrer, mas desistimos diante da informação de que negociações já estavam adiantadas com a OS do Museu do Futebol. Porque participar de uma concorrência se legalmente poderíamos ter nosso contrato prorrogado?

É público e notório que nenhuma OS está mais credenciada que a nossa para gerir o Memorial do Imigrante. Nossa Organização foi qualificada pelo então Governador Geraldo Alckimin em 2004 atendendo a comprovação legal de 3 anos de trabalho junto ao Memorial.

Apresentamos à Secretaria no mês de outubro, orçamento e Plano de Trabalho 2011 à 2014 elaborado sob orientação da UPPM, órgão gestor de nosso contrato.

Durante os 5 anos de Contrato de Gestão muito foi investido. Em relação aos funcionários, desnecessário lembrar que não se forma uma equipe de uma hora para outra. A natureza do trabalho museológico pressupõe um conhecimento profundo do acervo e da memória da Instituição. Investimos em treinamento, cursos e pesquisa o que torna o pessoal altamente especializado e, portanto, seu maior patrimônio.

Há 30 anos trabalhando na área de museus, jamais vi a destituição de toda uma equipe de uma só penada. Em nossa OS eu estou há 5 anos, mas há profissionais que estão no Memorial há pelo menos 15 anos.

Não somos uma empresa que trabalha por projeto ou evento. Não temos fins lucrativos. Nossa qualificação foi construída para o equipamento.

Somos profissionais e autoridades nas funções que desempenhamos.

A não renovação de nosso Contrato de Gestão acarreta grave prejuízo moral a uma gestão e equipe de comprovada qualidade técnico-gerencial que vem cumprindo todas as exigências legais e programáticas contratadas com a Pasta e com todas as demandas da Unidade Gestora, apresentando índices de qualidade ao nível dos mais desenvolvidos museus da Secretaria e cujas contas têm sido anualmente aprovadas pelos órgãos fiscalizadores.

Nossa gestão no Memorial tem conquistado reconhecimentos importantes a nível nacional e internacional que ultrapassam o meramente suficiente.

Em junho de 2005 apontamos ao então Secretário João Batista de Andrade a urgente necessidade de restauro do importante edifício da antiga Hospedaria dos Imigrantes, tombada pelo CONDEPHHAT em 1982, sob pena de, ao Estado ser imputado falta por negligência na sua preservação, o que foi acatado prontamente. Em junho de 2010 o Memorial foi fechado à visitação públicas para inicio das obras de restauro, as quais estão paralisadas desde então.

O acervo documental de registro de imigrantes sob guarda do Memorial foi nominado Memória do Mundo pela UNESCO, em setembro de 2009. A candidatura foi iniciativa desta OS, sendo aprovada a nossa demonstração técnica de conservação por aquele organismo internacional.

Algumas das ações interrompidas com o encerramento do contrato:
1. Projeto já contemplado em nome da OS, patrocinado pelo BNDES para restauro das Listas de Passageiros e Livros de Registro da Hospedaria

2. Convênio com o CISEI, de Gênova, para a digitalização dos nomes de todos os italianos entrados no Estado de São Paulo, com repasse de recursos financeiros em euros;

3. Convênio com o Arquivo de emigração da Galicia, para a digitalização dos nomes de todos os espanhóis entrados no Estado de São Paulo, com repasse de recursos financeiros em euros;

4. Convênio com os mórmons para a digitalização de cerca de 3 milhões de nomes constantes das fichas de registro de estrangeiros, sem ônus para o Estado;

5. Protocolo de intenções assinado com Museo Del Mare de Genova para a organização de exposição e seminário em comemoração aos 150 da Unificação da Itália, a ser realizada no âmbito do Ano da Itália no Brasil com apoio da Embaixada e com o Instituto Italiano de Cultura em SP.

6. Protocolo de intenções assinado para a comemoração dos 200 anos da imigração chinesa no Brasil;

7. Protocolo de intenções assinado para comemoração do centenário da imigração holandesa no Brasil;

8. Parceria com o Arsenal da Esperança para a realização de diversos eventos, entre eles a Festa do Imigrante, em 2011, com patrocínio da Rede Globo de Televisão – São Paulo;

9. Parcerias consolidadas com praticamente todas as 70 comunidades de imigrantes radicadas em São Paulo e com os Consulados respectivos.

10. Execução de Planejamento Estratégico para 2009 a 2013;
11. Seqüência da prestação de serviço de utilidade pública de fornecimento de certidões, certificados e declarações atendendo público em geral, demandas judiciais, em posto instalado na subprefeitura da Mooca.

Nos últimos cinco anos, foi encetado um grande trabalho da equipe na implantação de procedimentos administrativos e técnicos, anteriormente inexistentes: criação de área de museologia; implantação da tabela de temporalidade; finalização dos processos de doação; parcerias com institutos nacionais e internacionais que estudam o movimento migratório; parcerias com universidades; apresentações de exposições internacionais; criação de área de pesquisa; aquisições de títulos para a biblioteca, tornando-a uma referência no tema. Adicionalmente, lideramos a criação da Rede Brasileira de Centros de Estudo de Migração e participamos da criação da Migration Museums International Network liderada pela UNESCO e OIM – http://www.migrationmuseums.org/.
Trabalhamos na produção editorial de forma inédita, com o lançamento dos livros como A Presença Portuguesa em São Paulo; Migrações Internacionais, Desafios para o Século XXI; Série Reflexões sobre os seminários realizados; a Imigração Portuguesa; Memorial do Imigrante Institucional; reedições de apostilas sobre a imigração alemã, espanhola, japonesa, portuguesa, italiana; A Imprensa Imigrante: Trajetória da Imprensa das Comunidades Imigrantes e Migrações Pós-Guerra Mundial. Estivemos presentes nas publicações de artigos em revistas estrangeiras, como o Museum International, da UNESCO; Studi Emigrazione; Hommes & Migrations, da Cité Nationale de France; Revista Fame, Fortune and Sweet Liberty (EEUU e Alemanha) e Associação Brasileira de Museus – Rio de Janeiro.

Em 2010, foi iniciada parceria com o SISEM – Sistema Estadual de Museus, levando para o interior de São Paulo 10 exposições itinerantes e 5 Oficinas de História Oral e Conservação em Papel.

Também em 2010, na 15ª Festa do Imigrante, conquistamos um público recorde de 21.000 visitantes, o evento entrou para o calendário da cidade e, nos últimos dois anos, contou com o apoio e o reconhecimento da Rede Globo São Paulo.
Por fim, cabe lembrar a frase proferida pelo então governador Mário Covas, quando da inauguração do Memorial do Imigrante, em 6 de abril de 1998: “Este espaço onde passaram milhões de pessoas imigrantes e migrantes será a partir de hoje um espaço para atender e homenagear as comunidades imigrantes filhos, netos e bisnetos.”

Nos últimos cinco anos, a Associação de Amigos do Memorial do Imigrante, hoje Instituto de Museus, Memórias e Identidades, esteve presente nesta instituição histórica perseguindo e cumprindo esse lema. Este tem sido o nosso trabalho e nosso objetivo.

Ana Maria da Costa Leitão Vieira
Museóloga
Diretora Executiva do Memorial do Imigrante até 21/12/2010

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