terça-feira, 8 de dezembro de 2009

O que pode revolucionar a Educação



O que de fato pode revolucionar a Educação

"Esperar que a simples disponibilidade do computador e da internet de
banda larga na escola deflagre uma revolução na qualidade do ensino é mais
que ingenuidade"


Autor: Ethevaldo Siqueira.

Fonte: O Estado de S. Paulo.
Data: 22/11/2009.

A Finlândia oferece à sua população aquela que é considerada a melhor
educação entre todos os países do mundo. Esse nível de excelência alcança
tanto a universidade, como o ensino nos níveis médio e primário. Tais
resultados decorrem, acima de tudo, da qualidade de seus professores, das
instalações de suas escolas, da adequação de seus currículos, do número de
horas efetivas de aulas e da seriedade dos processos de avaliação da
aprendizagem.

Que bom seria se professores brasileiros pudessem dar um depoimento
parecido com este que ouvi de um professor de primeiro grau finlandês: "Como
educador, sou bem remunerado, sinto-me integrante da classe média, tenho
casa própria, automóvel, sei que terei uma aposentadoria decente e que meus
filhos poderão estudar nas melhores escolas. A sociedade me respeita e
reconhece o valor de minha contribuição para o futuro das crianças e jovens
de meu país".

Ao visitar a Finlândia no ano passado, minha maior surpresa foi notar
que suas escolas não revelam nenhuma paixão especial pelo computador ou pela
banda larga. É claro que seus educadores consideram esses recursos
tecnológicos importantes, mas afirmam que eles devem ser utilizados na dose
certa, no momento exato e de modo correto.

Um dos exemplos desse uso correto é o curso que a escola de nível
médio ministra a garotos e adolescentes na Finlândia e em outros países da
Europa, para prepará-los para o uso competente do computador e da internet,
fornecendo-lhe, ao final, o certificado chamado computer driving license,
por analogia com a carteira de habilitação de motorista. Seria muito bom que
as crianças brasileiras dispusessem de cursos periódicos semelhantes.

Um laptop por aluno?

Não tenho dúvida de que a maioria das pessoas que defende o projeto de
Um Laptop por Criança (OLPC, na sigla em inglês One Laptop Per Child) para o
Brasil e outros países emergentes, são pessoas bem-intencionadas e
idealistas. Mas basta refletir um pouco mais para se comprovar a fragilidade
desse projeto.

Sejamos realistas. A maioria das crianças não poderá levar seu laptop
à escola sem correr o risco de assalto no caminho, em especial em São Paulo
e no Rio de Janeiro. Os que conseguirem chegar à escola com a máquina,
serão, com certeza, tentados a navegar pelos sites mais inadequados durante
as aulas.

Nesse caso, o laptop será muito mais um elemento de dispersão da
atenção do aluno do que uma boa ferramenta de ensino. A experiência
finlandesa mostra claramente que o computador, quando usado rotineiramente
em sala de aula, sem critério, não traz nenhum benefício para a
aprendizagem. Pelo contrário, prejudica o aproveitamento escolar do aluno.

É claro que muitas escolas poderão oferecer a seus alunos acesso a
terminais de computadores de uma rede local, com recursos audiovisuais e
didáticos, para o ensino de geografia, história, matemática, física,
química, biologia, literatura e outras matérias, a partir de projetos
pedagógicos bem concebidos.

Nesse sentido, seria útil e desejável que os garotos aprendessem a
usar em casa alguns aplicativos para a aprendizagem de certas matérias.
Conheço pais que usam o Google Earth para ensinar geografia a seus filhos.
Ou astronomia com um programa tão atraente quanto o Starry Night (Noite
Estrelada). Na escola, esses e muitos outros recursos de software poderiam
ser adotados para ilustrar aulas, mas sempre sob estrita orientação do
professor.

Não há milagre.

Esperar que a simples disponibilidade do computador e da internet de
banda larga na escola deflagre uma revolução na qualidade do ensino é mais
que ingenuidade. Nenhuma ferramenta ou tecnologia tem esse dom mágico.

Na verdade, a grande revolução educacional que um país pode realizar é
resultado da combinação de um conjunto de fatores tão conhecidos como: a)
investimentos públicos prioritários em educação; b) melhor formação e
atualização do professor; c) remuneração condigna e a perspectiva de uma
carreira atraente ao educador; d) melhoria constante do ambiente escolar,
dando-lhe mais segurança e funcionalidade; e) especial atenção à saúde e à
nutrição dos alunos; f) atualização permanente dos currículos e do material
didático; g) envolvimento direto da família e da sociedade no problema da
educação.

Esse último aspecto me preocupa de modo especial, pois a maioria dos
pais brasileiros não acompanha de perto a vida de seus filhos na escola, não
conhece sequer seus professores, nem sabe o que suas crianças fazem na
internet.

No Brasil, vivemos um momento paradoxal. Sem realizar nenhuma reforma
em profundidade da educação no país, o governo federal anuncia um projeto no
mínimo eleitoreiro: a distribuição de centenas de milhares de laptops e a
instalação de terminais de acesso de banda larga à internet em todas as
escolas de primeiro e segundo graus do país.

Os resultados efetivos desse projeto para a educação serão quase
nulos. Como sempre, a maioria dos políticos e governantes só pensa em obter
votos e não está interessada nas melhores soluções para o país.



Postado por:
Lucimary Vargas
Presidente
AHAP/CEPESLE
Observatório Astronômico Monoceros
Além Paraíba-MG-Brasil
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