segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Imigração pomerana comemora 150 anos no Espírito Santo


Museu da Imigração Pomerana - ES

A imigração dos europeus para a América está inserida no processo de expansão do capitalismo mundial do início e meados do século XIX. As guerras de Napoleão deixaram a Europa fragmentada e o processo de urbanização e industrialização mostrava-se incapaz de absorver os excedentes populacionais. A passagem do Feudalismo para o Capitalismo continuava fazendo as vítimas no novo sistema econômico e social.

O capitalismo industrial investiu muito na marinha mercante para vender seus produtos e trazer imigrantes e buscar matéria-prima no Brasil para as indústrias emergentes na Inglaterra. A mecanização das lavouras na Europa deixava os ricos cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres, gerando uma enorme população de “sem terras”, por isso a grande maioria dos imigrantes que vieram para o Brasil eram ex-camponeses ainda com influência do antigo sistema feudal na Europa.

A nova fase do Sistema Capitalista fazia com que faltasse terra na Europa enquanto que no Brasil havia enormes espaços vazios sem a presença da civilização ocidental. No mais aqui no Brasil faltava a mão-de-obra “especializada”. Tanto a mão-de-obra do índio como o do escravo negro não servia mais para o capitalismo consumista do período.

A Inglaterra, berço da industrialização e do capitalismo da época, forçava a criação de uma classe média consumidora que ainda não existia no Brasil escravocrata. No mais o governo brasileiro e a classe dominante tinham interesse em ocupar as fronteiras, “embranquecer” a raça e promover o progresso do país. Também D. Pedro II usou táticas para trazer os imigrantes para o Brasil com grandes campanhas publicitárias especialmente na Alemanha e na Itália. Propagandas que também interessava às Companhias de Emigração da época uma vez que assim os navios traziam gente para o Brasil e levavam matéria-prima para a indústria que surgia na Europa.

A imigração alemã e italiana tinha preferência pelas terras do sul do Brasil. Mas também temos imigrantesdessas etnias em São Paulo, Rio de Janeiro e aqui no Espírito Santo. Os primeiros pomeranos chegaram ao Espírito Santo no ano de 1859 e, ao contrário do sul do país, aqui é maioria entre os imigrantes germânicos, caracterizando dessa forma a nossa identidade histórica e cultural. De cada 10 imigrantes germânicos, mais de 7 são pomeranos e menos 3 eram hunsrücker, suíços, holandeses, poloneses, austríacos, entre outros.

Houve aqui um processo interno de “pomeranização” e por isso é comum ter descendentes hunruckers, suíços, holandeses, poloneses e austríacos, e, em alguns lugares até negros, italianos, espanhóis e portugueses ainda hoje falando o pomerano.

Até a década de 1980, a imigração pomerana se confundia com a imigração alemã, de uma forma geral. Depois desta data, quando muitos descendentes pomeranos capixabas foram fazer faculdade começaram a redescobrir suas verdadeiras raízes pomeranas.

Hoje, com pouco mais de 20 anos de pesquisas, os imigrantes pomeranos que ultrapassam a 150 mil no estado, desenvolvem diversos projetos e programas de resgate e valorização de suas manifestações perseguidas e esquecidas quase 150 anos aqui em solo capixaba. Entre esses projetos podemos citar o Programa Escolar Pomerano/PROEPO que os municípios de Santa Maria de Jetibá, Vila Pavão, Laranja da Terra, Pancas e Domingos Martins desenvolvem. “Projeto que é fruto de uma profunda pesquisa do Doutor Ismael Tressmann que assim publicou o livro texto, “Upm Land up pomerisch sprak” – Na Roça Em Língua Pomerana” e o Dicionário Enciclopédico Pomerano-Português, “Pomerisch-Portuguisisch Wöirbauck” em 2006, obras inéditas e fundamentais para o sucesso do projeto. Deste projeto resultou a publicação de uma enciclopédia. Há 20 anos os municípios desenvolvem eventos como a Festa Pomerana (Santa Maria de Jetibá), Pomitafro( Vila Pavão), Encontro de Concertina (bandoneão) ( vários municípios), Semana Cultural (Pancas), entre outros. Já na década de 1980, surgiam diversos grupos folclóricos no estado com esse propósito e algumas pesquisas universitárias tornavam-se livros sobre esse tema. Documentário e filmes são produzidos na década de 1990 e hoje. Grupos de música (Ijsarbohn de Laranja da Terra e Up Pomerisch de Vila Pavão) surgem compondo e cantando na língua pomerana. A Imprensa capixaba divulga cada vez mais a história e a identidade pomerana do povo capixaba a partir dos anos de 1980. Depois dessas pesquisas os cônsules Helmut Meyerfreund e Jorn Duus também vêm tendo uma dedicação toda especial às comunidades pomeranas no resgate e na valorização da sua identidade. Na área da saúde preventiva devemos destacar o excelente trabalho feito nesses ultimo 20 anos pelo Projeto dermatológico de prevenção do câncer de pele, realizado pelo Albergue Martin Lutero, numa parceria com a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil/IECLB e a Universidade Federal do Espírito Santo/UFES, com apoio das prefeituras e Consulado. Neste ano de 2009, em que a Imigração Pomerana completa 150 anos, muitas atividades serão realizadas para resgatar e comemorar essa presença marcante no Espírito Santo. Os pomeranos capixabas são os mais tradicionais do mundo. Essa tradição, se trabalhada, pode ajudar ainda mais com o desenvolvimento local e sustentável. Basta um pouco de criatividade por parte das autoridades destes municípios. Políticos, educadores, pastores, ativistas culturais, empresários tëm a obrigação de construir este projeto.
*Jorge Kuster Jacob é sociólogo e pesquisador da história e cultura pomerana no Espírito Santo e secretário Municipal de Cultura e Turismo de Vila Pavão.
Jorge Kuster Jacob, por e-mail: jkj2008@hotmail.com
www.pommerblad.com.br
Informativo Brasil-Alemanha

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