quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Editora Unesp lança trilogia sobre a imigração em São Paulo

Terça-feira - 27/01/2009

Livros lançados pela Editora Unesp apresentam dados demográficos e
socioeconômicos da população estrangeira presente no Estado de São Paulo
entre 1850 e 1950

Um amplo mapeamento do cenário populacional no Estado de São Paulo a
partir da proibição do tráfico negreiro e do início do processo que
culminou no fim da escravidão, em 1850, é a proposta da primeira edição
da trilogia que a Editora da Universidade Estadual Paulista (Editora
Unesp) acaba de lançar com apoio da FAPESP.
Trata-se do livro Atlas da imigração internacional em São Paulo
1850-1950, que traz dados sobre a imigração estrangeira e a distribuição
espacial dos imigrantes, de modo a demonstrar que essas mudanças
acabaram definindo um panorama muito expressivo não apenas do ponto de
vista demográfico.

"O atlas é uma publicação inédita que traz um panorama das mudanças
demográficas ocasionadas pelos movimentos migratórios em São Paulo, numa
mistura de transformações que também foram sociais, culturais,
econômicas e políticas", disse a pesquisadora do Núcleo de Estudos da
População (Nepo) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e uma
das autoras das obras, Maria Silvia Bassanezi, à Agência FAPESP.

Segundo ela, a publicação é resultado do projeto "Migração, humanismo
latino e territorialidade na sociedade paulista", financiado pela
Fundação Cassamarca, da Itália, no âmbito do Projeto Brasil Latino,
desenvolvido junto ao Nepo/Unicamp.

Os dois outros volumes que integram a trilogia são o Repertório de
legislação brasileira e paulista referente à imigração, que reúne as
leis para São Paulo referentes à imigração elaboradas nos níveis
estadual e federal, e o Roteiro de fontes sobre a imigração em São Paulo
1850-1950, que analisa a documentação relativa às várias etapas do
processo migratório no Estado.

"Juntos, os três livros serão ferramentas de trabalho para pesquisadores
da história, antropologia, sociologia, geografia e demografia", explica.
"São disponibilizadas imagens de trechos de documentos de época e muitas
fotos que dialogam com os dados estatísticos", conta Maria Silvia, que
também é professora do Programa de Pós-Graduação em Demografia do
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp.

Além de Maria Silvia, assinam as publicações Carlos de Almeida Bacellar,
docente do Departamento de História da Universidade de São Paulo (USP) e
coordenador do Arquivo do Estado de São Paulo (AESP), Ana Silvia Volpi
Scott, do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade do Vale
do Rio dos Sinos (Unisinos), e Oswaldo Serra Truzzi, professor dos
Programas de Pós-Graduação em Ciências Sociais e Engenharia de Produção
da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).

As fontes de informação que serviram de base na elaboração das obras
foram basicamente o Arquivo Público do Estado de São Paulo, Fundação
Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), Memorial do Imigrante de
São Paulo, Biblioteca do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e
Arquivo Edgard Leuenroth, vinculado ao Instituto de Filosofia e Ciências
Humanas da Unicamp, além de censos regionais e nacionais em que foram
colhidas informações de caráter quantitativo da população paulista.

"As três obras trazem uma sistematização da documentação existente sobre
imigração nessas cinco instituições, contribuindo para a ampliação do
conhecimento na área na medida em que os pesquisadores terão acesso a
informações extraídas de documentos raros pertencentes a esses arquivos
históricos, durante mais de quatro anos de trabalho", explica.

Cinco milhões de estrangeiros

De acordo com o atlas, que também traz dados relativos à população
escrava no período imperial, entre as últimas décadas do século 19 e o
início dos anos 1970 o Brasil recebeu cerca de 5 milhões de
estrangeiros, dos quais 2,8 milhões entraram no estado de São Paulo,
sendo desses cerca de um milhão de italianos (36%), seguidos pelos
portugueses (20%), espanhóis (16%) e japoneses (8%).

A vinda desses imigrantes ao país esteve inserida no contexto das
grandes migrações humanas que foram determinadas por um conjunto de
transformações de caráter sociodemográfico na Europa, além das mudanças
provocadas pela expansão do capitalismo e mudanças políticas ocorridas
em diversos países.

"Todos esses processos interagindo entre si, em muitos momentos, geraram
excedentes populacionais em várias regiões que foram conduzidos às
emigrações oceânicas, entre elas as dirigidas ao Brasil facilitadas pelo
desenvolvimento das comunicações e pelo barateamento do transporte",
aponta a obra.

No caso particular do Estado de São Paulo, o rápido crescimento da
economia cafeeira – que gerou capital para subsidiar a imigração
estrangeira e seus desdobramentos, como a expansão da rede ferroviária,
industrialização e urbanização –, aliado às importantes reformas
institucionais e políticas, entre as quais a Lei de Terras de 1850 e a
abolição da escravatura em 1888, criaram condições favoráveis para a
imigração em grande escala.

"A imigração para São Paulo, no período que vai de meados dos anos 1880
ao final dos anos 1920, foi beneficiada pela política migratória
adotada, cujo eixo encontrava-se praticamente subordinado aos interesses
da cafeicultura. Pela perspectiva do imigrante, os subsídios e a
esperança de ter acesso à terra, veiculados pelas propagandas na Europa,
tornaram o destino brasileiro atraente até as três primeiras décadas dos
século 20", explica.

De acordo com a publicação, a evolução da entrada dos imigrantes no
Brasil e no Estado de São Paulo, especificamente de 1870 a 1970, pode
ser dividida em quatro momentos. O primeiro foi marcado pelo fim da
transição do trabalho escravo para o livre, pela rápida expansão da
cafeicultura no oeste paulista, pelo início da política de subsídios à
imigração e pela entrada maciça de imigrantes, principalmente italianos.

Terminou em 1902, quando a Itália passou a dificultar a emigração
subsidiada ao Brasil, ao mesmo tempo em que a crise da cafeicultura no
país, desencadeada nos anos finais do século 19, ainda se encontrava em
pleno vigor.

"O segundo momento teve como referências as políticas de valorização do
café no Brasil, o aumento expressivo da imigração de portugueses e
espanhóis e o início da imigração japonesa. Sua interrupção ocorreu
devido à Primeira Guerra Mundial e, em menor escala, à expansão da gripe
espanhola de 1918", aponta o atlas.

O terceiro foi marcado pela recuperação da lavoura cafeeira, pelo
desenvolvimento de outros setores da economia nacional no pós-Primeira
Guerra e pelo aumento de imigrantes do leste europeu, portugueses e
japoneses, e o quarto momento, por sua vez, começou no pós-Segunda
Guerra Mundial, com o afrouxamento das restrições à imigração, apesar de
ter apresentado um volume de entradas bem inferior aos três momentos que
o precederam.

"O terceiro e quarto momentos caracterizam-se, em São Paulo, pela
expansão da indústria, que implicou alterações no mercado e na
organização das relações de trabalho, em movimentos populacionais mais
centrados nas migrações internas que internacionais, além da urbanização
mais intensa", relata a publicação. (Agência FAPESP)

Serviço:

Atlas da imigração internacional em São Paulo 1850-1950
Número de páginas: 144
Formato: 29,5 x 35,7 cm
Preço: R$ 140

Roteiro de fontes sobre a imigração em São Paulo 1850-1950
Número de páginas: 320
Formato: 17,3 x 24 cm
Preço: R$ 50

Repertório de legislação brasileira e paulista referente à imigração
Número de páginas: 136
Formato: 17,3 x 24cm
Preço: R$ 40

Mais informações: www.editoraunesp.com.br

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