terça-feira, 15 de setembro de 2015

Três Rios fará mutirão para repatriar de Londres ossada de condessa

Moradores querem também trazer restos mortais do marido de condessa do Rio para a cidade

FRANCISCO EDSON ALVES
Rio - Autoridades de Três Rios pretendem fazer um esforço coletivo para repatriar os supostos restos mortais de Marianna Claudina Barroso de Carvalho, a Condessa do Rio Novo, de Londres, na Inglaterra, para o município, localizado no Centro-Sul do estado. Conforme notícia publicada nesta segunda-feira pelo DIA, de que não seriam da condessa os ossos sepultados na cripta da família, nos fundos da Capela de Nossa Senhora da Piedade, marco de fundação do município, no bairro Cantagalo, como se é cultuado e propagado há 133 anos, deixou os cerca de 80 mil moradores atônitos.
‘Condessa do Rio Novo’, Marianna Claudina Barroso Pereira de Carvalho
Foto: Reprodução
Nesta manhã, o prefeito Vinicius Farah (PMDB), que disse estar “surpreso, assim como todos os cidadãos trirrienses”, falou sobre o assunto num programa de rádio e ouviu sugestões para o traslado da ossada, que, segundo investigações de integrantes do Colégio Brasileiro de Genealogia (CBG), lideradas pela pesquisadora de Três Rios, Cinara Jorge, de 62 anos,  pode estar numa urna de madeira, num jazigo no subsolo da Igreja de St. Mary’s, em Londres, onde ela assistiu a sua última missa.

 “Vamos nos reunir com o secretário de Cultura, Marcos Pinho, para ver que providências poderemos tomar, após a confirmação dos fatos”, comentou. “Representantes da Câmara Municipal de Vereadores e da própria Igreja Católica também já se manifestaram em favor de uma união de esforços para trazer os despojos da Condessa para a Capela de Nossa Senhora da Piedade, conforme era seu desejo, manifestado em testamento”, ressaltou Cinara. Já a direção da Casa de Caridade de Paraíba do Sul, instituída pela família da condessa, ficou de se pronunciar nesta terça-feira sobre o assunto.

De acordo com a pesquisadora, moradores estão iniciando um movimento também para a transferência da ossada do marido da condessa, José Antonio Barroso de Carvalho, o visconde do Rio Novo, para a mesma capela em Três Rios. Ele morreu no dia  17 de outubro de 1969 e seu corpo foi sepultado no Cemitério do Catumbi, no Rio de Janeiro, no jazigo de número 8.815. “Ser enterrada ao lado do marido e dos pais (o Barão e a Baronesa de Entre-Rios) era o desejo de Marianna, conforme os escritos deixado por ela”, observa Cinara.

A constatação de que o povo, historiadores e turistas teriam sido enganados por mais de um século é o principal assunto de Três Rios nos últimos dias. Marianna é tida como heroína por ter distribuído, antes de morrer, possivelmente de câncer, aos 66 anos, em 1882, seus bens e terras a mais de 300 escravos que tinha, que também ganharam alforria seis anos antes da Lei Áurea.
As investigações foram iniciadas por Cinara ao colher informações reunidas no livro ‘Pioneiros dos Três Rios - A Condessa do Rio Novo e sua Gente’, de sua autoria. A desconfiança de que os despojos da condessa nunca estiveram depositados na Capela de Nossa Senhora da Piedade e o início da montagem do quebra-cabeça para se desvendar o mistério começaram com registros históricos guardados no Arquivo Nacional, no Museu da Justiça, na Biblioteca Nacional, no Itamaraty e no Consulado do Brasil, em Londres.
Jorge Nunes e a pesquisadora Cinara Jorge em frente ao túmulo da Condessa: ossada suspeita
Foto: Estefan Radovicz / Agência O Dia
Segundo documentos e cartas, em 1877, a condessa descobriu um tumor no ovário e, em 1882, partiu para a Inglaterra para se tratar. Ela viajou acompanhada de uma escrava e do médico Randolpho Penna, casado com uma sobrinha dela, mas não resistiu e morreu. Como não teve filhos com o marido, Visconde do Rio Novo, ela deixou testamento doando bens, terras, e libertando seus escravos. No documento, Marianna manifestou ainda o desejo de ser enterrada em sua terra natal, junto aos pais e ao marido.

Por causa de trâmites burocráticos, um caixão de zinco com os supostos restos mortais da condessa chegou ao Porto do Rio três anos depois. O caixão ficou abandonado por vários dias, até ser levado para a capela em Três Rios, onde foi erguido um jazigo. Dois anos depois, foi sepultada num caixão de cedro. O livro de Cinara relata que reproduções do jornal “Novidades” mostram que, no momento do sepultamento, o caixão foi aberto e, para a surpresa de familiares, foram encontrados apenas alguns ossos envolvidos em serragem, sem a arcada dentária e cabelos, o que levantou suspeitas de possível fraude.

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